Aquelas grades. Um dia eu as derrubo, e fujo daqui. Não aguento mais esse lugar. Escuro, vazio. Apenas um feixe de luz entra pela janela. Tento olhar através dela, mas só vejo escuridão. Talvez meus olhos acostumaram com esse lugar mal iluminado. O ambiente é frio. As paredes, úmidas. E a grade à minha frente. Não é um tipo comum, não tem 'porta'. Ela não abre. Parece que fui jogado aqui e construíram essas barras metálicas pelo propósito de eu não fugir. Cela? Talvez seja esse o nome. É, eu estou numa cela.
Torna-se engraçado estar aqui. Não tenho fome, não tenho sede. Não tenho nada. Começo a rir sozinho. Estou louco? Talvez esteja. Caminho de um lado para o outro, algo fez barulho. Paro instantaneamente, mexo novamente os pés. Havia uma lasca de mármore no chão. Uma lasca do tamanho de uma lixa. Lixa, é isso. Rapidamente, comecei a lixar uma das barras com a lasca de mármore, na esperança de poder sair desse lugar.
Horas se passaram, não sentia fome, não sentia dor. Poderia continuar o trabalho pelo resto da vida, mas vi que não estava resultando em nada. Parei, minha esperança foi embora, do mesmo jeito que da última vez. Como foi mesmo? Ha sim, lembro-me bem, agora. Era inverno e eu havia encontrado uma lasca igual a essa no parapeito da janela. Peguei-a. Aproximei-a do meu rosto e soprei, um sopro quente. A lasca trincou. O choque causado pelo calor e frio a fizeram trincar. Por que não tentar com as barras? Lembro-me que fiquei dias soprando as barras para ver se elas ao menos trincavam, mas nada. Patético não? Mas, o que é uma faísca de esperança no meio da escuridão? É muito, mas infelizmente foi só esperança.
E quanto a lasca? Sim, era uma lasca igual a essa. Será a mesma? Não, essa está inteira. Agora percebo que ela tem ponta, por que será? Fico olhando para ela. Minha vontade de sair daqui é enorme. Mas o que acontece se eu acabar com tudo isso? Continuo olhando para ela, agora como uma faca. Involuntariamente, aponto-a para mim. Dará certo?, penso. Com um só movimento, atravesso-a em meu coração. Minha respiração começou a diminuir, até parar. O sangue escorria pela minha mão, ainda segurando a pseudofaca. Tudo ficou preto.
Por um momento, fiquei feliz por ter acabado com aquele cenário deprimente.
Estou deitado. Meu corpo não dói, não sinto fome, sede ou frio. De repente, um feixe de luz atravessa o ambiente. A luz bate no chão e timidamente ilumina o local: as mesmas paredes, as mesmas barras.
Olho para meu corpo, não há vestígios de sangue. Por que não saí desse lugar? Na verdade, por que eu não morri? Será que morri? Será esse o purgatório?
Olho para barras. Agora elas estão vermelhas. Olho para o teto e as paredes, estão vermelhas e parecem ter veias em sua formação. De repente, eu sinto um impulso vindo do chão. As veias bombeavam sangue. Outro impulso, as paredes sofreram o mesmo. Olhava para os lados tentando entender o que estava acontecendo. Outro impulso, e a sala toda havia sofrido o impulso. Eu corria para os lados, a cada vez que acontecia. E vinha outro. Meu rosto espantado. E outro. E eu corria. E outro. E eu corria. E outro. E eu corria...
Até que parei no meio da sala. Os impulsos continuavam, mas eu não tinha medo mais. Havia entendido, os impulsos do meu coração. Sim, aquela cela, aquele lugar que eu tanto queria sair, eu mesmo havia construído. Isolado de todo eu, eu estava preso. Preso dentro de mim!
Douglas Mateus
Muito legal, Douglas! \0
ResponderExcluirÉ tudo culpa da Análise... calma, logo logo vc fazer análise 2, ai acaba... Respira fundo! ;)
heheheh
Muito bom, adorei mesmo.
ResponderExcluirJá que a Joy disse que é culpa da Análise, fico me perguntando, o que será se você fizer Topologia ! Irá ficar preso num Espaço Topológico de Hausdorff. Credo... :|
rs
Beijos.
Me senti dentro do clipe de Alanis Morissete "underneath".
ResponderExcluirMuito, muito, muito bom *-*
Orgulho desse escritor :x
Agradeço os comentários. :D
ResponderExcluirJoyce- eu vou fazer analise 1 semestre q vem
Buaaaaaaaaaaaa... snif snif
Patricia - Nem quero saber dessa matéria. To fugindo desse espaço. ;D
Ana - Eu vi o clipe agora. Muito bom.
Bjo a todas
Mateu, vc está no caminho certo para ter um bom blog!
ResponderExcluirAté
Adoro a intensidade dos seus textos, por isso, salvo no meu favoritos ! abraços
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