Roberta voltava para casa, depois de um dia cansativo no colégio. Todas aquelas aulas chatas haviam passado, mas parecia que nunca iria a acabar. Caminhava pela rua, abriu o portão e entrou em casa.
"Cheguei", falou quando entrou. Deixou a chave pendurada na porta e se dirigiu para a cozinha. Estava faminta.
Distraída, pegando o hamburguer dentro da geladeira, ouve um grito. (Buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu). Tamanho foi o susto que espremeu o hambúrguer na mão.
"Seu pirralho! Agora eu vou comer carne moída!", falou para seu irmãozinho, que saiu rindo. "Ainda bem que estava no plástico".
Fritou o que foi chamado de hambúrguer, colocou no pão e foi pegar molho. Sentada no sofá, assistindo ao seu seriado predileto, deu 'aquela' mordida no lanche. O molho escorreu pelo pão e caiu em sua camisa, que por sinal era branca.
"Mas que.... não, calma, calma". Levantou para pegar um pano e derrubou o copo de refrigerante que tinha colocado no chão. O refrigerante espalhou para debaixo do sofá. Dessa vez ela falou um palavrão.
Pegou um pano de chão e limpou a bagunça. Com um pouquinho de raiva, comeu o resto do hamburguer. Nesse momento, sua mãe chega em casa.
"Tenho uma notícia para você filha"
"Eu espero que seja boa...."
"Bem..."
"Olha, meu hambúrguer virou um mostro, eu sujei minha camisa branca de molho e derramei refrigerante debaixo do sofá. É bom que seja boa."
"Her.. bem.. Eu falo com você depois", sua mãe deu um sorriso amarelo e foi para a cozinha.
Como se já não bastasse o dia, curiosa, foi à cozinha.
"Qual é a notícia, mãe?"
"Tem certeza de que quer saber? Não quero alguém tendo uma crise aqui em casa. Vai assustar meu intestino. E você sabe como ele fica quando o ambiente está agitado!"
"Mãe, eu já te falei. Seu intestino não tem sentimentos. e..."
"Retire o que disse!", falou com a filha e colocou a mão em sua barriga, "não, ela não quis dizer isso. Pode ficar tranqüilo."
Roberta respirou fundo, pensou que era melhor não se preocupar com o relacionamento de sua mãe com o intestino.
"Voltando ao assunto, qual é a notícia?"
"Ah, sim. Sabe aquele vizinho, que ficava implicando com as crianças do bairro? Pois é, teve um infarto, está no hospital. Parece que já está melhor."
Não conseguiu se conter. Aquele vizinho que conhecia desde sua infância, havia sofrido um infarto...a emoção era tão grande, que gritou:
"Yeeeeesssssss!!! Enfim ele teve o que merece!"
"Filha!"
"Ele pegava minhas bonecas e dizia que eu era parecida com elas!!!"
"E qual o problema disso?"
"Eu só tive boneca feia!!"
"E a que eu comprei para você... você não me disse que achava ela feia, e sempre brincava com ela... sempre via você tirando a cabeça das bonecas e....Roberta!"
Ela olhou para o lado, com cara de santinha...
"Er.. bem... é que... você me deu com tanto carinho... "
"Ha...Agora eu sei porque você torturava suas bonecas..."
"Mas isso é passado. Sobre a notícia...", deu um sorriso maléfico, "posso visitá-lo?"
"O que você vai fazer lá?"
"Nada de mais, só fazer uma visita ao meu velho e bom vizinho..."
"Tudo bem, mas nada de fazer o que você fazia com suas bonecas com ele.."
"Ah! Isso nem passou pela minha cabeça..."
"E nem colocar morfina no soro dele!"
"Desisti da visita!"
"Eu sabia", e sua mãe deu um sorriso pela vitória e pegou um iorgute na geladeira, "agora é hora de você comer!"
"Não mãe, obrigada. Acabei de comer"
"Não é para você.", olhou para a barriga, "olha o aviãozinho... para o intestininho querido da mamãe!"
Não consegui ficar olhando aquilo, tomou banho e foi para o quarto. Estava cansada, resolveu deitar e dormir. Enquanto dormia, mentalizava sua infância. Brincando 'inocentemente' com as bonecas, estava ela no parque, quando chega seu vizinho. Ela já sabia o que ia acontecer, e tenta não olhar para ele. Ele chega perto, pega uma das bonecas dela e... Seus olhos ficam esbugalhados, sua respiração pára. Ela, vendo o velho ir dessa para melhor, pega a boneca da mão dele e...
"Muahahahahahhaha" - solta sua maior e melhor risada maléfica.
E segue seu sonho tranqüilo, com um grande sorriso no rosto.
Douglas Mateus