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8.18.2010

Ciúmes



"Não, não foi a mim que escolheu. Do que gosta, não te satisfaço? Hum... não sou o suficiente então. Pode ter escolhido outra pessoa, mas meu desejo por você só aumentou."


Em seu quarto, sentado sobre a cama, não se descrevia nada vivo, nem ele. O relógio, na parede acima da porta, realizava seu trabalho de sempre: tic... tac... tic... tac...
Pensar não lhe fazia bem. O motivo? Simples: imaginava, e muito. Mas agora, que sabia que fora definitivamente largado por outra pessoa, sua imaginação estava limitada, sim, limitada àquele casal que parecia tão feliz. Fechou os olhos, veio o rosto daquela pessoa, cada detalhe, aqueles olhos cujo brilho pensou ser para ele, aquela boca... Veio a imagem do outro, tocando o rosto dela e seus olhos fecharam ao toque do amado.
Ele fez uma careta e se contraiu, parecia que havia levado um soco no peito. Mas continuou com os olhos fechados e a cena continuava... quando viu os dois se beijando. Aqueles lábios encostando nos lábios de outro. Pôde-se ver veias aparecendo em todo seu corpo, sim, o sangue lhe fervia o corpo. Abriu os olhos, a respiração ofegante, levantou e caminhou em direção à sua escrivaninha. Segurou a mesa com as duas mãos e curvou seu corpo como se ela fosse seu apoio. O som do relógio parecia ter aumentado: tic... tac... tic... tac...
A cena continuou, e o pescoço da moça era beijado pelo outro, e ela estava entrando em delírio. Seus olhos, agora, estavam vermelhos... de tristeza ou ódio? Segurou forte a mesa, enquanto o rapaz seduzia a moça. Aquela imagem... Com um só movimento, tudo que estava sobre a escrivaninha foi jogado no chão. Pegou os cabelos com força, o sangue fervendo-lhe o corpo. Deu alguns passos para trás, encostando na parede. Levantou a cabeça e fechou os olhos.
Caminhou e ficou em frente ao espelho que havia na porta do guarda-roupa. Viu sua própria imagem, semelhança do fracasso amoroso. Essa, se foi e surgiu a imagem do casal, continuando o que estavam fazendo. O rapaz, agora, tirava a roupa da moça. Sim, aquelas mãos, que não eram as suas, estavam delirando a moça. Ela estava sendo tocada por outro... Encheu os pulmões e gritou, alto o suficiente para ela ouvir do outro lado do espelho. Estaria ficando louco? O casal olhou para ele e, maleficamente, deram um sorriso. Seus olhos estavam totalmente abertos. A expressão em seu rosto misturava-se com a trizteza e o ódio, como se tentasse achar algo racional ali, algo que explicasse o que estava acontecendo.
Em seguida, cerrou um dos punhos e deu um forte soco no cristal. O espelho foi feito em pedaços, dos quais vários cortaram sua mão. Aquele sangue que fez suas veias aparecerem, que corria por todos seus membros queimando cada parte de seu corpo, agora se esvaía pelo punho. As lágrimas desciam dos olhos, como se cortassem seu rosto a medida que escorriam. Lágrimas afiadas, de ódio. A respiração ofegante. Ela estava amando ele. Seu coração batia tão forte que parecia que iria parar. As mãos do outro no corpo dela. Gritou mais uma vez. Esmurrou o que sobrou do espelho, cortando-lhe mais o corpo. Gritava loucamente, para quê? Nem ele sabia mais. Mas se visse os dois, ha, os mataria. Faria-os sofrer como ele está sofrendo.
Depois de acabar com os pedaços do espelho, sentiu suas forças indo embora. Ajoelhou e, em seguida, se deitou, formando um quadro de deprimência: aquele corpo, totalmente sem defesas, jogado numa poça de sangue coberta de vidros que refletiam sua própria imagem, e a imagem deles. 
Deitado no chão, ao meio dos cacos de vidro sangrentos, sua vida se esvaía pelos pulsos. O relógio continuava sua monótona melodia, e a cada nota musical, ele se distanciava de sua amada. Até que... o sangue parou de escorrer, o relógio parou de tocar... e ele fechou os olhos.

Douglas Mateus

18 comentários:

  1. Muito bem construído!
    Uma bela linha de tempo... intenso e coerente!
    Adorei!
    ;D

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  2. Muito bem escrito rapaz! As imagens forma construídas com muita habilidade, da até pra ouvir os gritos de ódio do personagem se prestar atenção!
    Muito bem feito o texto!
    Parabéns!

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  3. Legal. Bem escrito, brow!

    Visite: http://paralelocruzado.wordpress.com/

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  4. Bacana de mais, e difici encontrar textos com qualidade como esse...
    Parabens vc sabe oq faz!

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  5. "Até que... o sangue parou de escorrer, o relógio parou de tocar... e ele fechou os olhos."

    Adoreeeeeeei demais! Nossa, parabéns. Você escreve muito. :) E ah, adoro o som de relógio. Tic tac.

    Tô seguindo e já votei lá também, boa sorte, querido.

    vocevaimever.blogspot.com

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  6. Caraca, muito bom! Geralmente não uso 'caracas' para expressar quando gosto de um texto, mas esse mereceu. Parabéns! mesmo! Um abraço.

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  7. Pode parecer falta de criatividade parabenizar você depois desse texto muito bem escrito, mas estou aqui me perguntando o que mais eu posso fazer? Retratou muito bem a evolução do ciúme, a neura da pessoa que sofre, o modo como o ciumento se torna detalhista e como isso o consome. Conseguiu transmitir o sentimento, gostei mesmo!!

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  8. Não tem quem aguente o ciúme!
    Mas apesar de tudo, a forma que você escreveu até da para "suportar". Não que o ciúme seja ruim, mas tudo que é demais da overdose. kkkkkk

    Fiquei perplexo com sua imaginação, realmente você tem uma criatividade incrível!

    Estou te seguindo!
    Me segue também:

    http://isacvcpro.blogspot.com

    ATÉ a Próxima!

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  9. Parabéns a sua criatividade é fantástica, senti como se estivesse na história. Vi cada cena ao ler o seu texto.
    Excelente!
    Estou te seguindo.

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  10. É, o ciúme é uma das mais fortes formas de auto-destruição. Pior ainda, qdo vai nos corroendo por dentro, feito um ácido. Não vou te elogiar... já cansei... prefiro aplaudir! Bjos.

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  11. muito bom o texto e sem dúvida nada pior do que sofrer pela mulher amada .....

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  12. Provavelmente, o melor texto que já li nos últimos tempos. Enquanto lia, as imagens se formavam em minha cabeça, e consegui me identificar com o personagem. Parabéns! :D

    http://amachoalfa.blogspot.com/

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  13. Ah, me identifiquei sim nas reações dele. Mas eu ficaria assim mais por ego ferido do que por ciúmes sabe, o fato de ser trocada por outra, isso faria meu sangue ferver.

    Ah, e obrigada pela visita :D

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  14. É a cena real consumindo o nosso ser. O desejo de se desfazer, esquecer, parar. Possa ser que consigamos, mas até lá somos consumidos pela dor de ver o que era seu em outro braços.
    Muito bom!

    Abraço.

    Se puder...
    http://emsimplespalavras.blogspot.com/

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  15. Maravilhoso, vc está de parabéns.

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