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8.26.2012

Durante o chá




Espero aqui
Enquanto me faz de trouxa
No salão do esquecimento
do palhaço horrendo
sem graça
sem maquiagem
sem nada

Há tanto tempo aqui
e você não volta
não fala
não faz nada
e nem eu...
[e o sangue escorrendo...]

Vou fazer um chá
para acompanhar o bolo
com a cara de idiota
do idiota que faz o chá

Será que tem fila?
Eu esqueci de pegar a senha?
E fiquei aqui, isolado,
enquanto você atende outros?
[e o sangue escorrendo...]

Ah, você voltou!
Quanto tempo!
Cansou dos outros
e voltou para pegar
o que um dia deixou pra trás?

Venha, deixe eu admirar
essa beleza que não vai mais brilhar
que na verdade se extende ao chão

Tenha o que merece
Morra nas sombras
desse lugar sem sentimentos
Onde você me fez esperar
[e o sangue escorrendo...]

Enlouqueci?
Não sei te responder
E quando descobrir
Você não poderá mais ouvir
Que as plantas se alimentem
e se fortifiquem
desse seu sangue podre
e envenenado
egoísta e sarcástico
Enquanto eu bebo meu chá...


8.18.2012

O Fim




A vista aqui é maravilhosa: posso ver o mar se estender ao infinito, onde encontra com o céu. Daqui desse penhasco, essa é a minha visão. Os pássaros voam livremente no céu azul. Eu já não sou mais o mesmo, já percorri muito e tenho mais a percorrer. Pulo do penhasco...
Abro as minhas asas, cansadas da trilha que me trouxe aqui hoje, encarando a trilha que ainda devo seguir. Cambaleando no ar, consigo me ajeitar e voar sobre o mar. Passo pelos pássaros despreocupados e continuo minha jornada. É longa, cansativa, mas é minha...
Parece que há horas que estou assim, voando e voando. O sol está quente... minhas asas estão cansadas...Sinto-me como Ícaro e suas asas de cera, prestes a soltarem de si e ele ser jogado ao mar. Sinto como se fosse minha realidade...
O céu ficava cada vez mais distante, enquando eu afundava na malha oceânica. Não tenho forças para nadar, estou cansado, estou afundando... 
De repente sinto uma dor agura, como se meu braço tivesse sido arrancado. Vejo meu braço esquerdo se afastando na boca de um tubarão, deixando um rastro vermelho se dissolvendo na água....
Nem sei mais o que sou, só sei que estou cansado, só sei que quero descansar. Cheguei ao fundo do oceando. O que restou do meu corpo ficou sobre a areia molhada. Não me movimentava, so ficava ali, parado, descansando...
Aos poucos meu corpo foi submerso pela areia. Agora ninguém mais me encontraria, e eu poderia ter o meu tão desejado descanso...