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9.22.2013

O garoto que queria pensar



Os olhos fechados,
ele ouvia,
quase enlouquecendo,
os barulhos ao seu redor.

A mãe lavava vasilha
O pai martelava
A água caía na pia
e espirrava na parede empoeirada

E ele ouvia, cada barulho
ele sentia, cada vibração
Cada onda sonora o incomodava
e o levava longe de sua imaginação

A folha caía da árvore
e causava um terremoto
O cachorro latia
e deixava destroços

E o lápis quebrou a ponta
Acabou rasgando o papel
Não aguentava tanto barulho
Sua mente era sensível a tudo

Queria escrever, queria se expressar
Mas nesse mundo barulhento
O perfeito caos sonoro
Só fazia o torturar

2.18.2013

Do lado de fora - Parte V


O Segundo não estava mais visível e Alora estava sozinho. Até que aparece uma terceira figura. Não tinha forma, era negra e não falava. Apenas emitia alguns sons disformes.
_Então ainda não tomastes forma? Interessante! - Alora fitava a figura - Um espectro assim, um vulto. Parece que o primeiro viajante ainda não possui rumo. 
O vulto soltou um som agudo e curto, concordando com Alora.
_Humano tolo, instigado a deixar sua vida por algo que nem sabe o que é. Talvez seja essa a salvação dos humanos, daí temos resultados inusitados. O que fará agora, espectro?
O vulto soltou um som grave, longo e emitiu uma tímida luz azul. 
_Ah, sim, compreendo. Cruzar a vida dos dois.. De fato, ficaria mais interessante se já estivesse em sua forma natural. - Alora se divertia em imaginar - mas tudo depende do primeiro viajante. Ou, quem sabe, o segundo possa lhe dá uma forma?
De fato, o Segundo poderia dar ao vulto a forma que o Primeiro não conseguiu. Emitindo uma luz vermelha o vulto se despediu de Alora e caminhou em direção ao nada. Alora sorriu para o vulto que sumia nas trevas. Era paciente, e esperaria as notícias com calma, para não estragar o prazer que elas proporcionam.
Enquanto isso, os dois viajantes se esgueiravam pela escuridão.

2.01.2013

Do lado de fora - Parte IV


O Segundo (assim chamarei a segunda pessoa que saiu do quarto) se aproximou de Alora. Diferente de Primeiro, sentiu algo amistoso no espectro. Um dos olhos de Alora se dirigia a ele, e o outro para o além.
_Olá viajante - disse Alora serenamente.
_Olá... como posso chamar-lhe?
_Permita-me: sou Alora.
_Um espectro em toda essa escuridão? Instigante!
_Se é assim que quer pensar. - Alora direcionava, agora, seus dois olhos a Segundo - Não creio que achará a resposta para aquilo que busca, viajante, mas devo dizer que pelo menos você tem rumo. O primeiro viajante não tinha rumo.
_O primeiro? Então ele passou por aqui...
_Ah sim! Conversamos um pouco, mas ele saiu correndo há pouco tempo.
_Sabe para que direção ele foi?
_Consegue definir direção aqui na escuridão, viajante?
De fato não conseguia, já não sabia mais de onde havia vindo. Escolher um rumo agora seria bem complicado, poderia voltar a sua origem.
_Vocês humanos são tão medíocres com os próprios sentidos... - Alora voltou com seu sorriso habitual.
Isso o fez refletir. Estava tentando enxergar um rumo, e como fazer isso onde nada se vê? Por sorte, sentiu aquele cheiro que acalentou sua noite anterior, um perfume. Soltou um sorriso para o espectro em agradecimento à ajuda. Queria sua resposta, e seguiu em sua direção, usando o olfato como guia. Alora ficou sozinho, admirando a beleza da mente humana. Irônica e sarcasticamente, exibia seu sorriso, tentando adivinhar o resultado da busca dos dois.