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9.22.2012

Demônios da Vida - Parte IV




O plano era simples: após o expediente, mataria Salven. Ficavam apenas ele e a irmã do garoto no bar, uma tarefa simples. E foi assim que ocorreu.
Quando entrei pela porta principal, claro, Salven disse que já estavam fechando e não iriam me atender. Caminhei até ele e quebrei seu pescoço, com uma virada rápida de sua cabeça. Foi fácil, não esperava ser morto, digamos que foi pego de surpresa, apesar de eu estar na sua frente.
Dirigi-me à cozinha, procurando a garota, e que surpresa! De um lado, ela estava sentada em cima da pia. Do outro, havia um cofre semi-aberto, com bastante moedas de ouro, um exemplar da fortuna de Salven que ele escondia. Ignorei a garota e me aproximei do cofre.
_Pare!
Virei-me. A garota continuava do mesmo jeito, a mesma posição, em cima da pia sem fazer nada. Havia uma arma apontada para mim.
_Ora garoto. Agora eu sei a origem daquelas moedas. Usou o dinheiro dele para pagar sua morte. Interessante.
_Sim. Podemos dizer que Salven pagou a própria morte - o garoto sorria, um sorriso sarcástico, devo dizer - Mas não esperava que você entrasse aqui.
_Não? E por que a arma então?
_Ora Lorder, a vida é cheia de riscos, nenhum plano é perfeito. Mas minimizar as chances do plano falhar, ah.. isso pode ser feito.
_Para um garotinho da sua idade, você entende bem das coisas. Mas apontar uma arma para um profissional como eu? Devo dizer que estaria morto antes de poder puxar o gatilho.
_Lorder... se fosse me matar, já teria o feito. Me diga, o que ainda faz aqui?
Não estava interessado nas moedas, ou na irmã do garoto, apesar de ter que admitir a beldade que era.
_O que fará agora? - perguntei.
_Sairemos da cidade - o garoto disse, abaixando a arma - Há dinheiro suficiente para uma estadia e nossos estudos. Finalmente Hellen poderá ingressar na faculdade. Conseguiremos um emprego e vamos controlar as despesas. Temos um futuro garantido agora.
_Quero lhe fazer uma proposta.
_Qual?
_Quero que trabalhe comigo. Um profissional como eu, um mente brilhante como a sua. Viajaremos o mundo com o nosso trabalho. Sua irmâ poderá ir conosco. Aposto que nunca saiu dessa cidade, imagine sair do país. O que me diz?
Os olhos do garoto brilharam, sua irmã abriu um sorriso, demonstrando alguma afeição e interessa na oferta.
_Uma proposta tentadora, bem inteligente e bem feita, não é de menos que veio de um profissional como você. Mas devo recusá-la. Não planejo isso para o meu futuro e nem para o de minha irmã. Espero que entenda.
Um momento de silêncio tomou o lugar. Eu o encarava e ele a mim, sem deixar os olhos piscarem. Abri um sorriso. 
_Escolha inteligente garoto. Garantiu um futuro promissor. Recusar uma proposta dessa mostra a sua capacidade. Tenham um excelente futuro. - caminhei em direção a saída. Antes de deixar o local, ouvi um chamado.
_Lorder! Meu nome... é Salven Jr.
Fiquei estupefato, mas não demonstrei. Admirava cada vez mais aquele garoto. Deixei o local.

Ah! Tudo acaba nesse bar, a tequila do meu copo, a água que estava bebendo e o dinheiro do meu bolso. Ouvir essa história do próprio Lorder foi uma experiência interessante, o bandido apresentava satisfação em cada palavra que saía de sua boca. 
Esse bar é cheio de histórias, poderia até contar mais uma para você, mas tenho que pensar no que fazer agora que meu dinheiro acabou. Você quer mais uma história? Bom... hehe... sente-se aqui e me pague uma bebida. Então poderemos continuar.


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9.14.2012

Demônios da Vida - Parte III




Ah, sim! Isso é bom... Uma dose gelada!
O menino trabalhava em um bar perto do qual estamos agora, como servente de limpeza. Era comum encontrar crianças trabalhando nessa cidade suja, pobre e sem lei. Diante de tal pobreza, o povo daqui tinha que fazer de tudo para poder sobreviver, e trabalho infantil foi um caminho à solução.
Também nesse bar, a irmã do garoto trabalhava como garçonete, sendo assediada por vários clientes e, até mesmo, pelo chefe. Mas ela sabia se virar. Se tinha algo semelhante ao seu irmão era a coragem. Até que a situação apertou...
_Quero que mate Salven, aquele maldito está abusando da minha irmã! - o garoto contava à Lorder.
_Mas ela passou a levar mais dinheiro para casa, não? Por que a revolta? - Lorder gostava de brincar.
_Prefiro passar fome e ter que beber a água suja do chão daquele bar a ver minha irmã desse jeito - pelo olhar do garoto, senti imensa quantidade de ódio. - Não posso matá-lo, me mataria antes que pudesse fazê-lo. Por isso dou o serviço a você. Espero que não me decepcione.
Lorder riu. Admirava o garoto. Já ouviu muitas histórias parecidas, cujo irmão ou filho tentam salvar a mãe ou irmã, tentando matar o mal-feitor. Nessa rebelião, todos da família do rebelde acabavam mortos. Mas esse garoto era inteligente, sabia que não conseguiria resolver desse modo, e o contratou para tal fim. Lorder executaria a tarefa.
_Tudo bem garoto, farei o trabalho. Mas ainda não me disse como conseguiu esse dinheiro.
_Precisa dessa história para executar a tarefa?
_Não, apenas curiosidade.
_Então essa é a hora de minha retirada.
O garoto se dirigiu à saída do bar, sem ao menos olhar para trás. Todos o acompanhavam com os olhos, intrigados com sua forte presença, até que ele saiu. Lorder agora conversava com o barman.
"Um garotinho tentando salvar a irmã que seguiu o caminha da prostituição para conseguir sustentá-lo. Uma história comum, mas o garoto tem inteligência. Uma pena ter nascido em um local como esse. Um desperdício."
O barman continuou calado. Enxugava um copo com um pano cinza e estava mais do que acostumado com histórias. Lorder pagou a bebida (ele bebia água enquanto conversava com o garoto) e saiu do bar. 
Eu fiquei, tomando o resto de tequila que havia em meu copo. O interessante desse lugar é que você não vai atrás das histórias, elas vem até você. Os criminosos gostam de contar em detalhes o que fizeram. De fato, era só esperar Lorder voltar para saber o resto da história. Enquanto isso, vou beber um pouco de água, está quente aqui, e será uma longa espera...


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9.07.2012

Demônios da vida - Parte II



Agora que terminei minha dose de tekila, contarei a vocês a história. Era um dia qualquer, de uma semana qualquer de um mês qualquer. O bar aqui é sempre o mesmo, em qualquer época. 
Mas algo interessante ocorreu. A porta do bar se abriu e um garotinho entrou e parou no meio do bar. Tinha cabelos lisos, porém crespos de sujeira, vestia mal e carregava uma pequena bolsa de couro, do tamanho de sua mão. Encarava todos ao redor e conseguiu chamar atenção, pois todos, agora, olhavam para ele.
_Quem é o maior bandido daqui? - perguntou. Apesar da firmeza em sua voz, podia-se ver também o medo. Sua respiração estava um pouco acelerada, típica de alguém que tenta esconder o medo que está sentindo.
Todos olharam ao redor, sem acreditar no que ouviram. Alguns riram, outros continuavam sérios.
_Sou eu! - disse um homem que havia saído de perto do balcão. Sorria debochadamente - O que vai fazer comigo? Me prender? - e todos riram.
_Quero contratar o maior bandido daqui. Você não parece um bandido, mas sim um palhaço fazendo todos rirem.
Tinha que admitir, o garoto tinha uma coragem nunca vista por ali antes.
_Tenha cuidado com suas palavras garoto - disse o homem em um tom ameaçador - Eu não diria isso para o maior bandido deste local...
_Está mesmo dizendo que é o maior bandido desse local? - o garoto arriscava. Sua coragem era muito superior ao seu medo, apesar de não cessá-lo. Aquelas palavras só irritaram o homem.
_Está duvidando garoto? - o homem agora falava em tom mortal.
_Prove! - essa foi a sentença final do garoto. Todos olhavam para o homem, que direcionava as mãos para a arma escondida no casaco.
Uma risada sarcástica, vinda da outra ponta do balcão, quebrou a tensão, e todos se viraram para saber o que era engraçado.
_Sendo desafiado assim, por um garoto, e ficando sério... Isso lembrarei para todo o sempre - e continuou rindo, deixando o homem incomodado - Venha garoto, qual seria o trabalho? Espero que o que tens na bolsa seja o suficiente para pagar.
O garoto olhava desconfiado para o homem, mas sentia verdade em suas palavras. Com um movimento, jogou a bolsa para o homem, que a pegou rapidamente. Analisou o que havia dentro: moedas de ouro.
_Onde conseguiu isso garoto? - perguntou ao menino, em tom desconfiado.
_Não creio que sua origem seja de relevância para o trabalho, e creio que há mais nessa bolsa do que pretendia cobrar - o menino era um gênio, tinha o dom de falar com bandidos!
_Hum... um tanto ousado falar assim com alguém como eu garoto. Aprecio isso. Me chame de Loder. E você é...
_Isso também não tem relevância para o trabalho.- disse o garoto, sentando ao lado de Loder na ponta do balcão.
_Interessante! Muita coragem a sua, devo admitir.
Loder não era um bandido qualquer. Era realmente o maior da região. Não pelo número de crimes, mas pela qualidade dos crimes. Aceitava poucos trabalhos, desses que bandidos comuns não fariam, ou se fizessem, deixariam mais rastros do que deixaria uma bomba atômica.
Loder não sabia qual tipo de trabalho estava por vir, mas aceitara o garoto. Nenhum de seus contratantes haviam falado daquela maneira com ele. Todos os respeitavam, pelos seus crimes ou pelo medo, mas o garoto teve a ousadia de desafiá-lo em voz. Ele gostou, gostara da inocência da infância e da inteligência do menino. Decidiu pegar o trabalho, seja qual fosse. Considerara algo que o garoto ganhara com tal ousadia.
_Bom, pergunto novamente: qual seria o trabalho, garoto?
O menino sorriu, feliz por ter encontrado alguém para excutar tal tarefa, e disse:
_Quero que mate uma pessoa.
Uma criança pedindo a morte de alguém? Esse menino é mesmo fascinante. Sua história deve ser bem interessante. Lorder a imaginava e os motivos. Ele era um bandido que não fazia o trabalho sujo simplesmente por fazer, mas gostava de conhecer os fatos para o destino ter convergido naquele pedido. E disse:
_Então garoto, qual a sua história?
Ah, que droga! Contando essa história para vocês, fiquei com a boca seca. Vou pedir outra dose de tekila, e então continuo...


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