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9.21.2014

Pesadelo


(leia cantando)


Um a um
Dois a dois
Mato seus sonhos
e você depois

Dois a dois
Três a três
Sempre jorra sangue
não importa o freguês

Três a três
Quatro a quatro
Não importa o seu medo
você vai ser meu prato

Quatro a quatro
Cinco a cinco
Você está com sorte
enquanto estou rindo

Cinco a cinco
Seis a seis
Não sei se brinco mais
ou te mato de uma vez

Seis a seis
Sete a sete
Filmo a sua dor
e ponho na internet

Sete a sete
Oito a oito
Te devorar comendo o quê?
Pipoca ou biscoito?

Oito a oito
Nove a nove
Essa é a comédia
que a vida lhe promove

Nove a nove
Dez a dez
Chegou a sua hora
Não, não tem mais rima

Se quiser fugir
Essa é uma boa hora para acordar
Não que lhe darei essa chance
mas será divertido
ver você tentar

Douglas Mateus

9.14.2014

O Cavaleiro

Por muito tempo esse foi meu lugar de me expressar, extrair o que sentia. Juntamente com músicas, as palavras, as frases e as histórias se construíam de forma coerente aos meus sentimentos. Confesso que nem sempre saíam boas obras, muitas vezes caiam no clichê, outras simplesmente não tinham o fim que eu desejava. Mas mesmo assim foi uma época bem produtiva da minha vida criativa. 
Nessa época eu experimentei a tristeza e a solidão, juntamente com o dever de manter a cabeça erguida pelo simples fato de que o mundo não pára. Conviver com os problemas sem conseguir resolvê-los e continuar lutando não foi a tarefa das mais fáceis. Carregar esse peso a cada passo em uma longa caminhada sem fim em uma estrada deserta, escura e fria com monstros me aguardando a cada quilômetro fez, por incrível que pareça, minha criatividade ativar de uma maneira ímpar. Consegui retratar através de meus textos assuntos infelizes que me atormentavam e acredito que, além de conseguir me expressar, ainda ganhei um público.
Mas agora parte desses pesos foi embora. Minha infelicidade já não é mais a mesma, e minha criatividade resolveu cessar. Talvez tenha servido apenas como uma ferramenta para me ajudar a enfrentar tudo. Aliás, desde pequeno fui treinado para enfrentar situações hostis, para lutar sempre, determinado de que tudo um dia irá melhorar. Bem, agora estou encontrando momentos felizes, momentos que não tive no passado e que admito não conseguir encarar. Me sinto como a pessoa daquela piada do funcionário de vendas, que pede ao cliente para fazer o cartão mas não foi treinado em caso de resposta afirmativa. É, eu realmente não fui treinado para isso. E minha criatividade me abandonou, talvez na hora que eu mais precise dela. Meus textos hoje são raros.
Uma gama de sentimentos me atinge agora, deixando-me confuso. Tento reagir, procurar hostilidade em cada pedaço de emoção para poder me preparar, mas essa não existe. Estou enlouquecendo sem saber o que fazer, como reagir. Não consigo me despir de minha armadura, não consigo largar minha espada. Mesmo que não a tenha na mão, sempre a carrego na cintura. Não estou nu para que as coisas boas me atinjam. 
E cada emoção que chega é como se viesse uma caixa de pandora pedindo para ser aberta para liberar todo o mal do mundo. E o que me resta? A esperança. O último sentimento bom guardado nesse turbilhão do mal. A esperança de entender, de assimilar e de, principalmente, me deixar ser atingido pela felicidade.

"A luta eterna nos cega e passamos a enxergar 
apenas monstros até onde há luz"

Douglas Mateus

9.03.2014

Almas - Ato I



Nasci nova, bonita
estilo boneca de porcelana
Pureza na alma
e bondade no coração

Me vi com todos
os tipos de pessoas
E a pureza que me cabia
se desfez a cada passo

Mundo nojento, mundo sujo
Cada ser pior que o outro
Meu rosto trincado
Minhas juntas enferrujadas

Aquele sorriso de anjinho
ainda vive no meu rosto
enquanto o sangue escorre
pelo canto de minha boca

Minhas asas não funcionam
Não saio mais do chão
Fico deitada e pensativa
Estagnada e ferida
Enquanto molho meu olho de vidro
com lágrimas em vão

O que fizeram comigo
durante o meu caminho
pela minha perfeição?

Esse foi o resultado da vida
de alguém que tinha
na alma, escondida
o desejo de brilhar

Boneca de porcelana, anjo de vidro,
com asas divinas, quebradas pelo destino
Me retiro dessa vida, nesse chão frio
que é o ponto final do meu sofrido caminho.


8.11.2014

Fase da vida: o ménage à trois

Eu costumava a me encontrar com elas. Éramos amigos, de vez em quando saíamos para tomar algo, trocar umas ideias, mas nada passava disso. Só um encontro casual para relaxar a mente. Devo dizer que era bacana, mas depois de um tempo não lembrava mais do que tínhamos conversado. Sei lá, acho que tenho perda de memória recente, como a Dory em 'Procurando Nemo'.

Enfim, eu gostava desses encontros, e acho que as duas também gostavam. Às vezes não nos encontrávamos por alguns dias, às vezes eram dois, três, quatro encontros em um só dia! É claro que nem sempre saía com as duas juntas, de vez em quando era uma ou outra. Não por minha opção, pois sempre gostei da companhia de ambas, mas por opção delas. Devo me corrigir, não era eu que saía com elas, mas o contrário. O convite sempre se deu por parte delas!

Mas aqueles inúmeros encontros nos agitavam, até que eu tive a ideia (e nem acredito que vou contar isso) de dar um passo à frente. Gostava das duas e queria usá-las, se me permitem usar esse termo. Ou será que estava disposto a ser usado? Bem, o negócio é que eu propus: um ménage à trois. E elas toparam logo de cara! Nem acreditei! Super empolgado, chamei-as ao meu lar, onde sempre relaxava, para podermos nos divertir. E que diversão! Horas produtivas, dando a devida atenção as duas. Nunca deixei de dar atenção mais a uma que a outra, este é o segredo senhores. Anotem!

Foi incrível, senti que nos aproximamos mais, e creio que sentiram o mesmo. Diversas vezes nos reuníamos e decidíamos aumentar o encontro em  meu recinto, ou nos encontrávamos lá mesmo, para fazer o bacanal. Fizemos isso durante um bom tempo. Até que... foi bom enquanto durou. Sim, repito: enquanto durou.

Não sei se fiz algo de errado ou que não gostaram. O sexo à três estava sendo substituído pelo famoso sexo de casal: ou vinha uma ou a outra, mas os encontros à três começaram a diminuir. Devo dizer que depois de um ménage, um sexo de casal não é tão empolgante ou produtivo... acabou sendo um problema para mim. E pouco a pouco, elas que eram tão quentes e sedentas começaram a se afastar... até que já não as via mais.

Essa fase da vida acabou, pois elas eram únicas. Com certeza não há outras iguais. Às vezes, eu tomava um vinho, acompanhado de uma bela música, para chamar a atenção na esperança de vê-las novamente, mas tudo em vão.

Agora sigo minha vida assim, sem a empolgação de antes. Meus dias não são tão produtivos ou prazerosos, por causa daquelas duas, que me largaram sem eu ao menos saber o motivo. Fazer o quê? Seguir... sem as duas. Meu relato acaba aqui, já que não tem mais nada de interessante.

Ah! Já ia me esquecendo e desculpem-me pela falta de educação de não apresentá-las. Seus nomes eram: criatividade e inspiração.

1.25.2014

A espera



Fico aqui, observando o rio, vendo os peixes passearem pela correnteza, nadando para lá e para cá. O tempo está favorável, o clima está quente, excelente para nadar, o céu está lindo, pássaros sobrevoam as árvores. Venta um pouco, uma brisa, na verdade, de leve, balançando as folhas para lá e para cá. E eu aqui, admirando este belo cenário, esperando... mas não chega, a pessoa não chega. 
Meu coração se aflige com a demora, e começo a achar que nunca vai chegar. Por essa pessoa, eu esperaria a vida inteira, não, toda a eternidade, só para me encontrar. É a correspondência do meu amor. Mas por que não chega? Por que começo a duvidar?
Começo a ficar impaciente com os peixes e com os pássaros, todos juntos e eu esperando. Olho para céu, batendo meus pés descalços na água. Que sensação boa, reconfortante e refrescante! Fecho os olhos e acabo adormecendo com o som de fundo da natureza. 
Acordo assustado, olhando para os lados e limpando a baba dos beiços. Olho para um lado e para o outro e percebo que continuo a esperar pela chegada. Mas nunca chega...
É, nunca chega! E eu cansei de esperar. Calcei meus sapatos, levantei e comecei a caminhar pela beira do rio, seguindo seu fluxo. Ri de mim mesmo.
Peguei minhas coisas e fui para casa, tenho muitas coisas à fazer. Me amar é uma delas. Em vez de ficar esperando... esperando... esperando o que mesmo?

"Sabe, a correnteza leva tudo que está com ela. Não espera coisa alguma, nem ninguém. Faz por si só, sempre presente e sempre em alguma direção. Você é feito de 70% de água, por que fica parado então?"

1.09.2014

Meu poço



A cada som
A cada nota musical
Uma martelada no meu coração

A cada brisa
A cada ventania
Um furacão na minha mente

A cada sereno
A cada chuva
O poço se enche cada vez mais

E eu aqui
Tentando subir
Sem ao menos tentar

Sendo machucado
atormentado
e me afogando nas lembranças

Lembranças de alguém que foi
Lembranças de alguém que é
Lembranças de alguém que será

Aprisionadas nesse túnel vertical
Hiperdimensão banal
do meu próprio eu

Já não sei o que acontece lá fora
Já não sei o que acontece aqui dentro
Já não sei o que acontece comigo
E não sei se quero saber...