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9.14.2014

O Cavaleiro

Por muito tempo esse foi meu lugar de me expressar, extrair o que sentia. Juntamente com músicas, as palavras, as frases e as histórias se construíam de forma coerente aos meus sentimentos. Confesso que nem sempre saíam boas obras, muitas vezes caiam no clichê, outras simplesmente não tinham o fim que eu desejava. Mas mesmo assim foi uma época bem produtiva da minha vida criativa. 
Nessa época eu experimentei a tristeza e a solidão, juntamente com o dever de manter a cabeça erguida pelo simples fato de que o mundo não pára. Conviver com os problemas sem conseguir resolvê-los e continuar lutando não foi a tarefa das mais fáceis. Carregar esse peso a cada passo em uma longa caminhada sem fim em uma estrada deserta, escura e fria com monstros me aguardando a cada quilômetro fez, por incrível que pareça, minha criatividade ativar de uma maneira ímpar. Consegui retratar através de meus textos assuntos infelizes que me atormentavam e acredito que, além de conseguir me expressar, ainda ganhei um público.
Mas agora parte desses pesos foi embora. Minha infelicidade já não é mais a mesma, e minha criatividade resolveu cessar. Talvez tenha servido apenas como uma ferramenta para me ajudar a enfrentar tudo. Aliás, desde pequeno fui treinado para enfrentar situações hostis, para lutar sempre, determinado de que tudo um dia irá melhorar. Bem, agora estou encontrando momentos felizes, momentos que não tive no passado e que admito não conseguir encarar. Me sinto como a pessoa daquela piada do funcionário de vendas, que pede ao cliente para fazer o cartão mas não foi treinado em caso de resposta afirmativa. É, eu realmente não fui treinado para isso. E minha criatividade me abandonou, talvez na hora que eu mais precise dela. Meus textos hoje são raros.
Uma gama de sentimentos me atinge agora, deixando-me confuso. Tento reagir, procurar hostilidade em cada pedaço de emoção para poder me preparar, mas essa não existe. Estou enlouquecendo sem saber o que fazer, como reagir. Não consigo me despir de minha armadura, não consigo largar minha espada. Mesmo que não a tenha na mão, sempre a carrego na cintura. Não estou nu para que as coisas boas me atinjam. 
E cada emoção que chega é como se viesse uma caixa de pandora pedindo para ser aberta para liberar todo o mal do mundo. E o que me resta? A esperança. O último sentimento bom guardado nesse turbilhão do mal. A esperança de entender, de assimilar e de, principalmente, me deixar ser atingido pela felicidade.

"A luta eterna nos cega e passamos a enxergar 
apenas monstros até onde há luz"

Douglas Mateus

2 comentários:

  1. Olá,Boa noite,Mateus
    ...entendo perfeitamente...quando ficamos muito presos aos monstros , só observando, vamos nos afastando cada vez mais da luz e entrando em ressonância com a escuridão...acostumamos tanto que estranhamos até a felicidade.Mas,não imagino que precisará manter essa combinação , tristeza e criatividade, pelo resto da sua vida. Às vezes, isso parece um problema; em outras, quero crer que a maior virtude é, justamente, superar desafios.
    Realmente acredito que as pessoas devem procurar o que funciona para elas e se ainda estamos longe de viver só no inferno ou só no paraíso, temos chances de aprendizado e se a vida é como um tecido que se vai tecendo a cada dia, o tipo de fio que usaremos para continuar escrevendo...só cabe a nós escolher.
    Obrigado pelo carinho,belos dias,abração!

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  2. Olá Douglas,
    Cara, até mesmo os grandes gênios da arte, da literatura, do esporte, etc. Passaram por uma situação parecida onde a grande criatividade produtiva parece fugir de alguma forma. Talvez, o melhor seja tentar se livrar da armadura que o restringe e deixa a vida lhe tocar assim como o vento bate livre no rosto de uma criança ao andar de bicicleta!

    Dê um tempo, não se preocupe com isso, não se torture, uma hora ela volta naturalmente, pois como dizem por ai "quem sabe andar de bicicleta nunca esquece".

    Você escreve muito bem!

    Abraços,
    Flavio Ribeiro

    portaodoinfinito.blogspot.com.br

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