Páginas

12.24.2010

Morangos e Amoras

 Andando pelas ruas dessa cidade, a neve batia em meu rosto. As lojas estavam impossíveis de entrar, imaginem sair. Quem entrava, não saía tão cedo. As ruas movimentadas, as pessoas apressadas, com uma expressão mal-humorada. Nem as crianças estavam felizes, sendo que não podiam ver os brinquedos que queriam, pois eram praticamente arrastadas pelos pais. O trânsito simplesmente caótico, a cidade ao som de buzinas e palavrões. A beleza dos enfeites da cidade se desfaziam com o clima desagradável de humor das pessoas. Isso porque é véspera de natal.
Como não tenho família, e nem amigos, o que vim fazer aqui foi rápido, e já me encaminho para casa. A pé, é claro, detesto trânsito. E também porque gosto de andar, olhar para as pessoas, para o ambiente, olhar o clima. Sou um observador.
Caminho para casa, o vento gélido bate em meu rosto, enrugando-o como se fosse uva passa. Algum tempo se passou e saio da multidão do centro, e ando pelas ruas quase desertas do meu humilde bairro. Um gato passeia sobre um dos muros de uma casa, nao sei a cor exata dele. Aliás, eu diria que era branco, devido a quantidade de neve que estava nele. 
Esse lado da cidade estava tranqüilo. Podia-se ouvir até o som do vento. Meus sapatos afofavam a neve, fazendo um barulho como se estivesse andando de pantufas. Continuei meu caminho, chegando em frente a minha casa. Parei em frente a porta, para procurar a chave. Lembrei: havia deixado com a vizinha. Ela tem uma filha, de uns sete anos, uma gracinha. Ótimas vizinhas, as vezes deixo a chave com elas, caso elas precisem de algo que possuo. Bati em sua porta, a mãe abriu:
"Já de volta, vejo que não comprou quase nada. Hum.. aqui está sua chave. Tenha um ótimo natal!"
Pude ver Sabrina, a menininha, na sala, rindo para mim de um jeito que não entendi. Parecia ter aprontado alguma.
Bom, voltei, abri a porta e algo entrou em minha casa, algo branco se movimentando. Só agora percebi que o gato havia me seguido. Até que não achei ruim, seria bom passar o natal com um gato, quero dizer, com um bicho que vai ficar deitado e ronronando no sofá.
Coloquei a lasanha e o vinho que havia comprado na geladeria. Gosto dos vinhos gelados, detesto aquela sensação quente quando o vinho desce a garganta.  Havia muito tempo até o horário da ceia, então decidi descansar. Já deitado, veio o gato e se deitou ao meu lado. Adormecemos.
Acordei quase na hora de ceiar. O preguiçoso ainda dormia ao meu lado. Fui esquentar a lasanha e fazer a mesa. Aproveitei para olhar a rua pela janela. Havia luzes em todas as casa, só restava um buraco negro na minha, como se fosse um falha nessa rua que parecia exalar alegria com seus enfeites. Decidi ligar as luzes da minha árvore. É, eu montei uma árvore de natal, com bolinhas, enfeites, neve falsa e até o presépio. Quando acendi, vi algo sob suas folhagens. Havia uma caixa, uma caixa que não deveria estar ali. Peguei-a e vi: havia meu nome, em letras desregulares e coloridas. Sentei no sofá, abri a caixa. Havia uma torta dentro, feita em casa. Sorri para mim mesmo, sahia de quem era: Sabrina. Coloquei na mesa. Comecei a ceiar.
Como não sabia o que dar para o gato, dei um pouco da minha comida. Aliás, era natal, ele merecia algo especial. O vinho estava delicioso, combinava com o dia frio e descia gélido a garganta. Muito bom! E, de sobremesa, o presente! 
A torta estava meio 'torta', o que percebi que fora feito com aquelas mãozinhas. Fiquei olhando, abobado, até que tive coragem e levantei da cadeira. Chamei o bichano, com a torta nas mãos, o vinho na outro, e me dirigi à casa da vizinha. Toquei a campanhia, receioso de haver outras companhias. Quando Sarah atendeu, pude ver que só havia ela e a filha na casa.
"O que deseja a essa hora? Não fale, entre, está um gelo aí fora"
Entrei, com vergonha. Sentia-me invadindo o espaço alheio, ainda mais na noite de natal. Ela me levou à cozinha, onde deixei repousar a torta e o vinho sobre a mesa. De repente, alguém me abraça por trás. "Feliz Natal", ouço, e ela me abraça forte nas pernas.
"Feliz Natal para você também Sabrina! Agradeço muito pelo presente. Não gostaria de comê-lo comigo", me virei para Sarah, "se sua mãe não importar, claro".
Sarah fez um gesto e pegou três pratos, nos quais depositei uma fatia da torta. 
"Claro que não estou esquecendo de você! Por acaso você tem um prato menor, Sarah?", ela pegou e depositei um pouco de torta para o bichano. A torta era recheada de morangos e amoras, com um delicioso creme dessas frutas. Pude reparar Sarah comendo, deixando um pouco do creme vermelho no canto dos lábios. Ela reparou em mim e, atrevo-me a dizer, sensualmente passou a língua nos lábios, limpando-os.
Comemos nós quatro, sem conversar. Tive a brilhante idéia de ir e oferecer a torta, mas não sabia o que falar. Acabamos de comer, e arrisquei falar:
"E você, Sabrina, recebeu o presente do Papai Noel?"
"Recebi sim, muito obrigada! Eu queria mesmo aqueles patins!", virou para sua mãe, "Ele ainda acredita no Papai Noel?"
Sarah ficou um pouco desconcertada, mas eu comecei a rir. Sabrina desceu e saiu da cozinha, dizendo que já voltava. O silêncio, então, retomou o lugar, exceto pelo ronronar do gato. Até que olhei para Sarah: ela estava olhando para mim, com um sorriso nos lábios. Fiquei olhando para ela e, sem saber o porquê, comecei a sorrir. Até que Sabrina volta à cozinha, com os patins que eu dei nos pés, patinando em volta da mesa. Sarah abriu o maior sorriso do mundo, achando muito engraçado e brincando com a filha. De alguma forma, me senti bem com aquilo. Mas Sabrina estava com sono e pediu para deitar. Até me deu um beijo de boa noite! Boa menina. 
Ficamos a sós, Sarah e eu. 
"Ainda sobrou o vinho, não?", ela disse para mim, e fiz um gesto afirmativo, "Que tal uma taça?"
Ela pegou duas taças e eu despejei o vinho nelas. Bebemos, e ela se levantou e me deu um beijo que me deixou ofegante. Puxando-me pela camisa, me levou até seu quarto:
"Quero agradecer o que tem feito pela gente e o que fez por minha filha esse natal"
Sim, a noite de natal foi boa. Foi A noite de natal. Acordei de manhã, antes das duas acordarem. Peguei minha roupa espalhada pelo quarto e me vesti, me dirigindo para a sala. Chamei o bichano e saimos. Pela cara dele, eu sabia que ele pensava o mesmo que eu: o lugar onde passaríamos o ano novo. E que lugar!

Douglas Mateus

12.02.2010

O Demônio da Luxúria



É engraçado como a cor do vinho me fascina, tão vermelho em minha taça, de um vermelho sangue. Tenho o prazer de tomar um gole, mas uma gota escorre pelo canto de minha boca. Devagar, chega ao meu pescoço, passando em cima da jugular. Irônico, não? Sinto a gota ser tirada de mim, por alguém. Vejo uma mancha vermelha na língua dela.
Passei a vez para ela, que bebe do mesmo cálice, e deixa uma gota escorrer pelo lábio. Essa desce ao queixo e, atrevidamente, escoa por entre seus seios. Ela me lança um olhar atrevido, e eu, então, levanto da cadeira. Passo meus lábios pelo rastro do vinho em seu pescoço. Desço devagar, sinto ela inclinar a cabeça para trás, jogando os cabelos às costas e deixando livre o caminho para mim. Afogo-me naquele decote, e encontro a gota atrevida. Chupo com força, para que aprenda a lição.
Volta a sentar. Analiso-a, enquanto ela passa a língua nos lábios. Seu olhar me devora. Sei muito bem o que ela quer, mas tenho que ter cuidado. Aliás, morrer de prazer ainda significa morte, não? Olho para o lado, a cama arrumada, esperando o furacão da luxúria passar. Ela coloca a perna sobre mim, a perna descoberta pela abertura do vestido. Que perna! Começo a passar a mão em sua coxa, macia e firme, subindo até.. parar. Não posso me entregar assim.
Ela pega a taça, bebe um gole. Bebe? Não, não engole. Me puxa para cima dela e me beija, deixando o vinho escorrer pelo seu corpo. Seu vestido molha e ressalta os seios. Com apenas um movimento, ela me joga na cama. Senta em cima de mim. Tento resistir, mas ela me prende com as mãos e acabo cedendo às suas carícias malignas.
Não aguento, a luxúria tomou conta de mim, e a cama vira uma verdadeira devastação. Nossos corpos juntos, o prazer, os beijos, as mãos pelo corpo, até que estou quase lá. Ela ri, inclina o corpo para trás e acelera os movimentos do quadril. E que quadril!
Sim, estou quase lá. A respiração aumentou severamente, o prazer vai explodir. Até que... vejo ela estender a mão, e pegar algo na escrivaninha. Olho para ela, com seu sorriso maligno. Tentei falar algo, mas ela fez um sinal de silêncio para mim. E, em seguida, o colocou seu dedo na minha boca. Eu sabia, mas não conseguia me livrar daquele prazer imenso. E ela continuava os movimentos, e eu estava chegando.
Até que o prazer explodiu, a luxúria chegou ao máximo, e algo chegou ao meu coração. O sangue escorre pela cama, como aquele vinho escorreu pelo corpo. Irônico não?
A última coisa que vejo é o corpo e o rosto daquele demônio sensual rindo para mim. Sou mais uma vítima, entre várias. Mas que belo fim, não acham? Morrer de tanto prazer. Devo confessar: não sabia que morrer era tão prazeroso!

11.16.2010

Amor & Orgulho


 Olhar
Sorriso
Beijo
Tesão

Quarto
Cama
Banheira
Prazer

Juntos
Declaração
Amor
Coração

Desconfiança
Traição
Ódio
Separação

Tristeza
Lágrimas
Saudades
mas Adeus!!

10.28.2010

Mate-me de prazer



Pego minha taça
Bebo o vinho vermelho
Saboroso, passo a língua nos lábios
e retribuo seu sorriso malicioso

Te levo para o quarto
Bato a porta, você me joga na cama
Me beija violentamente
Rasga minha roupa
Como se fosse me matar
Tirar algo de mim
Lutamos  e lutamos
Eu te aperto, você me sufoca
Eu te penetro,você me invoca

Você me arranha as costas
Me deixa todo vermelho
Deixa suas marcas felinas em mim
Enquanto deliro em você

Me morde, como se fosse um animal
com sua presa, rasgua minha carne
deixando o sangue escorrer
enquanto grita durante nosso movimento infernal

Me prenda! Me machuque com a força das suas pernas
enquanto continuo o vai-e-vem
Me aperte com seu abraço, como se fosse quebrar meus ossos
Mais forte, Isso! Encrave suas unhas nas minhas costas
Deixe o sangue escorrer, enquanto morde meu pescoço
E grita, e bate, até sua força máxima
O momento que mostra quem você verdadeiramente é

E acabamos imóveis na cama
Mortos, pelo prazer assassino do gozo

10.18.2010

Vazio existencial



Não tenho sentimentos
Meu eu é monótono
Tudo que sabe sobre mim
É a mais pura mentira

Não penso em você
Não penso em mim
Só sigo em frente
No que os outros chamam de vida

Não tenho desejos
Não tenho rejeições
As vezes, me pergunto se sou humano
Me identifico com um demônio
Tenho características de anjo
Não sou nenhum desses três

Sou a ausência do amor
Sou a ausência do ódio
Sou a ausência da luz
Sou a expressão vazia no rosto da vítima humana

Não sou o alfa
Não sou o ômega
Não sou Deus
Sou o oposto disso tudo
Eu sou o NADA

10.11.2010

SOU O BRINQUEDO EM SUAS MÃOS



Veja esse lugar: escuro, frio. Não esperava uma coisa dessas de você. É aqui que guarda tudo? Mas está vazio. Não interessa. Olho para os lados e vejo uma porta cinza, descascada. Coloco a mão na maçaneta, giro-a e abro a porta lentamente, deixando um ruído deprimente cortar o silêncio desse lugar. Não sei porque, mas gosto desse lugar.
Vejo um corredor. Caminho, algo fez barulho, parecendo se quebrar. Pisei em uma folha seca. Aproveito para observar o chão: o cimento estava coberto de folhas secas. Como essas folhas foram parar aqui, se não existe árvore nesse lugar? Na verdade, aqui não existe vida. Continuo seguindo em frente, passando pelas paredes cinzas e mortas. No fim do corredor, duas passagens. Por essa ou por aquela? Vamos por essa.
Durante minha caminhada encontro várias passagens. Começo a rir sozinho. Um labirinto? Quanto mais vai me fazer andar? Por toda a eternidade? É assim que me ama?
Entro em passagens aleatórias, sem me preocupar por onde vou ou se estou andando em círculos. Estou cansado desse jogo, mas não consigo ficar parado. Apenas ando, tentando te encontrar. Odeio o jeito que brinca comigo. O suor escorre pelo meu rosto, ando tateando as paredes. Espere, acho que vejo algo. Estreito as pálpebras para enxergar melhor. Havia uma luz vermelha no meio do corredor. Estranho, havia algo de cor nesse mundo em que me trancou. Do chão, surge uma pessoa, com um capuz vermelho sobre a cabeça e uma foice nas mãos. Acho que era a morte. Como a morte pode ter tanta vida no meio da própria morte? Ela vinha em minha direção, segurando firmemente sua foice. Ela iria me matar... mas não posso deixar isso acontecer. Ainda não te encontrei. Não posso morrer agora.
Começo a correr desesperado, entrando por qualquer passagem. Ela vinha correndo atrás de mim. Maldita! Corres rápido. Como vou me livrar dela nesse labirinto? Nesse labirinto...? Para onde foi o labirinto? Só há uma passagem no final de cada corredor. É como se eu seguisse em linha reta. Fechei os olhos por um instante, eu sabia que estava correndo exatamente para onde ela queria. Mas não podia deixá-la me pegar. Corri até o final do caminho. Uma porta cinza descascada. Meti a mão na porta e vi:
Voltei para o lugar de onde comecei. Uma sala cinza, vazia, com o chão, agora, coberto de folhas secas. Não havia saídas. Olhei para a porta. Lentamente, a morte entrava na sala. Ela se aproximou de mim, ficamos cara a cara. Não sei se posso dizer cara a cara, melhor cabeça a cabeça. Meu coração batia forte, meu suor, agora saía frio, e se misturava com o suor quente que havia no corpo. Então, é assim? Vou morrer sem te olhar uma última vez. Sem te amar uma última vez.
Ela, lentamente, tirou o capuz. Pude ver seu rosto. Sim, pude ver SEU rosto. Era você o tempo todo. Você que vive nesse mundo. Você é a única que tem vida aqui. Sim, agora reparei em mim, não tenho cor, também sou todo cinza. Meu medo acabou, estar com você me consola. Sorrio, mas você não retribui. Na verdade, sua expressão é maligna. Pensei em te abraçar e te beijar, como se isso fosse apagar o susto que me deu, mas continua segurando a foice. Vi tudo em seu rosto: estava decidida.  É isso o que faz com o que ama? Brinca e joga fora? Agora entendo porque a sala está vazia. Você mata tudo o que guarda.
Levanta a foice, seria um golpe só. Pensei que ficaria como antes, mas não. Agora não tenho medo. Já te encontrei, não tenho medo do que vai fazer comigo. Me mate agora, mas não hesite. Me tire logo do seu mundo, já percebi que não faço parte dele. Apesar de tudo, você faz parte do meu. Mas isso não interessa, porque o meu está prestes a acabar. E esse é o seu mundo, frio e sem vida. É aqui que você acaba com tudo. Aqui,  bem no interior do seu coração. E ela fez da foice, seu pincel; do chão, a tela; e de meu sangue, a tinta. E naquele mosaico de folhas secas, eu viro a pintura sem vida da tela morta.


Douglas Mateus

Galera, ganhei um quadro de selos da minha amiga Dielma.
Confiram!

10.05.2010

Profissionalismo - Parte Final

 

"Certa vez, no orfanato, conheci um menino. Ele visitava o lugar algumas vezes. Era o único que me entendia e prometeu que me tiraria dali. E cumpriu a promessa." - Cate deliciava-se com as palavras - "Devo confessar algo: cada um que morreu hoje teve um motivo."
Foi a minha vez de falar, na verdade, minha e de Danilo. Alternávamos a vez:
"John Petterson. Acusado de abusar da sobrinha, mas foi absolvido da acusação por falta de provas." - apontei para o gordo no chão.
"Joana Turker. Vendia drogas. Os usuários que não pagavam, ela mesma matava" - Danilo apontou para a loira com vestido vermelho, no chão.
"Tonsom Pets. Cafetão. As mulheres eram praticamente escravas. As que tentavam fugir, eram cruelmente mortas." - apontei para o gordo com terno vermelho e cabelo grisalho.
E continuamos as descrições, até a lista acabar.
"Então vocês são uma espécies de justiceiros?" - indagou Amanda.
"Não" - respondi, com um sorriso maléfico - "Somos assassinos. Apenas temos critérios para matar."
Cate voltou a falar:
"Aquela noite, você me tirou o que eu tinha de mais precioso. Minha mãe. Soube que ela morreu,  espancada, na prisão. Sabe, o seu motivo de morte é forte" - Cate encostou a faca na garganta de Amanda. - "Cresci observando você. Policial exemplar, coloca o dever acima de tudo. Engraçado o que o profissionalismo faz, não é? Se não fosse tão profissional aquela noite, talvez.... não interessa. " - Cate apertava a faca mais forte, sem cortar a garganta de Amanda.
Até que, olhou nos olhos da policial e abaixou a arma.
"Aquele dia, você estava fazendo seu trabalho, justa e honesta. Não é culpada do que aconteceu depois. Fique tranqüila. Você não encaixa no perfil de minhas vítimas. Matar você seria ferir meus princípios." - sorriu para a policial e saiu. Danilo havia aberto uma das passagens, e nós três saímos. Por incrível que pareça, ninguém nos perseguiu.
"Escolha sábia" - Danilo disse - "Uma verdadeira assassina, seguindo princípios verdadeiros. A vingança não faz parte de nossa lei. Isso que é profissionalismo"
"Não pense isso. Eu a matei. Amanda é uma policial que trabalha para o bem dos outros. Sabendo o que ela fez comigo... logo você vai entender"
Sorri para ela, sabia que essa seria sua escolha, mesmo que eu não concordasse. Nós três entramos no carro de Danilo e, antes de partir, ouvimos um disparo. A expressão de Cate parecia condená-la: estava feliz, mas a vingança a incomodava.
"Você fez essa escolha, Caterine. Terá que viver com o peso da conseqüencia o resto da vida. Não é a mesma coisa, não é? Matar um inocente não está nos nossos princípios. A vingança não faz parte de nossa lei. Somos assassinos, esse é o nosso trabalho. Essa é a nossa vida."
Apesar do suicídio, tenho certeza de que Amanda seria acolhida aos céus.

10.02.2010

Profissionalismo - Parte II



A noite chegou rápido. Fui para casa, tomei um banho e peguei minhas coisas. Liguei para Danilo. "Tudo pronto?", ele confirmou. Saí de casa rumo à festa.
Encontrei várias pessoas da faculdade. 
"Você aqui?", perguntaram. 
"Pois é, tenho assuntos a resolver".
Algum curioso chegou a perguntar: 
"Como o quê? Não vai estudar, vai?".
Não resisti e respondi:
"Não. Na verdade, eu tenho que matar algumas pessoas."
"Cara, você é realmente estranho!"
Nesse momento, vi Danilo. Ele acenou para mim, minha expressão mudou. Eu havia entendido, era hora de começar.
Um homem se aproximava. Reconheci, estava na lista que havia recebido. Com um rápido movimento, virei seu pescoço. Ele caiu, imóvel, no chão. Meus colegas me olhavam espantados. Vi Danilo acionando algo: todas as entradas da galeria foram fechadas. Ninguém entra, ninguém sai.
Peguei as duas facas que guardava na cintura. Alguns policiais se aproximaram, mas eu os desarmei. Danilo fez a mesma coisa. Pouco a pouco, identificávamos os integrantes da lista e, um por um, caíam no chão. Até que eu a vi, vinha em minha direção apontando sua arma: Amanda, uma policial  antiga. Desarmei-a facilmente e a algemei, deixando suas mãos atrás das costas. 
Todos olhavam para Danilo e eu, estavam espantados e não entendiam o que estava acontecendo. Até que Amanda decidiu falar:
"Matando pessoas em uma festa. Que falta de criatividade, mas ousado. Quero dizer, na frente de todos, sem esconder sua identidade."
Não falamos nada.
"Não vai me matar logo? Estou algemada. O que vai fazer? Me bater? Já sei, vai me estuprar e depois matar."
Olhei para ela.
"Te estuprar? Eu sou um assassino. Te estuprar não seria... ético." - sorri sadicamente, ela entendeu.
"Não acredito no que estou ouvindo. Um assassino falando de ética. Isso existe nesse ramo?"
"No ramo, não sei? Mas tenho meus princípios."
"Princípios?"
"Sou um assassino, não um animal sanguinário. Mas não convém falar disso agora." - desviei o olhar para o lado.
Do meio da multidão, surgiu uma garota. Mesmo vendo tudo, seu semblante era calmo, eu diria indiferente. 
Ela se aproximou da policial, e começou:
"Sabe, meu pai me batia quando eu era menor. Batia forte, eu chegava a sangrar, minha mãe desmaiava. Até que, certo dia, decidimos parar o maldito. Foi uma luta e tanto, mas ele caiu, para nunca mais levantar. Alguns vizinhos ouviram o barulho e chamaram a polícia, que chegou arrombando a porta. Imobilizaram minha mãe, iriam levá-la. 'Não podiam fazer isso comigo', pensei. Peguei a faca que usamos para matá-lo e a enfiei na perna de um policial. Descobri que era uma policial. Ela gritou de dor, e me segurou, falando que eu era uma marginal. Fui parar em um orfanato perto da região: Saint Cruz. Você sabe como é lá? Antes tivesse ficado com meu pai." - a garota parou um pouco, sorriu vagamente. Amanda escutava tudo atenciosamente. 
Caterine, a garota, se aproximou de mim e pediu uma das facas. Dei-lhe uma. Perto de Amanda, Cate rasgou sua calça e viu a cicatriz que causara quando criança. Amanda estava assustada, seus olhos estavam mais abertos que o normal. Cate a olhou, apreciou sua expressão, sorriu e retomou a fala...

9.29.2010

Profissionalismo - Parte I



O alarme estava soando. Os garotos e garotas estavam agitados, gritando e batendo coisas nas portas de seus dormitórios. Os policiais estavam alertas, procurando em cada canto do alojamento. Conseguiriam nos achar? É claro que não. Me livrei de alguns, somente os que poderiam nos denunciar. Saímos por onde entramos: pela entrada principal. Lá dentro estava o caos, mas aqui fora, eu caminhava com ela em direção ao carro. Deixei ela entrar no banco traseiro, no qual ela preferiu deitar. Parecia um anjo, aquela criança. Comecei a dirigir, saindo daquela casa, agora, cheia de luzes. Eles procurariam até o amanhecer, pensei sorrindo e segui o caminho de casa.
Alguns anos se passaram e ingressei na faculdade. Esqueci de dizer, mas acabei de sair da adolescência. Mas, como qualquer um, ainda não era adulto. Mesmo assim, não era muito sociável. Digamos que sempre estava sozinho fazendo meus deveres. Não pensava muito em amigos, até porque já tinha o suficiente, e também minha profissão não me permitia envolver muito com as pessoas.
Certo dia, recebi uma carta: "Festa na Galeria Psicodélica. Várias pessoas estarão lá, você sabe. Vamos?". Telefonei para um amigo, que também é colega de trabalho. Perguntei se ele estaria livre e se poderíamos ir, e conversamos um pouco. Ele entendeu e concordou. Sentei em frente ao computador, havia recebido um email. Havia uma lista contendo os nomes de algumas pessoas que lá estariam. Respirei fundo. Eu teria que me arrumar, não é todo dia que temos uma festa dessas. E tudo deveria sair como o planejado. Desliguei o computador e fui dormir. O dia chegaria logo.

Douglas Mateus

9.23.2010

A garota que perdeu a inocência



Seus olhos estavam inchados
Seu corpo tremia
Medo? Ódio? Não sabia...

Segurava uma faca
Sua lâmina brilhava
Via seu reflexo no espelho metálico
Via aqueles olhos vermelhos e inchados

Um clarão veio em sua mente
Virou o rosto
Lembrou-se daquela vez
Sim, daquela vez, com o seu tio
Alguns a chamariam de puta
de piranha e vários nomes mais
Mas só ela sabia a verdade
Ela e ele...

Tão inocente, sozinha em casa
Recebe a visita dele,
que diz querer esperar pelos pais dela
Com o corpo de anjo
Pureza divina
e a inocência de uma criança
Sozinha em casa...

Fechou os olhos
As mãos cerradas fortemente
suas unhas perfuravam a carne
Segurava a faca firmemente

Se dirigiu à janela
Pôde ver seu corpo no vidro
Aquele corpo
lindo e formoso
Violado por um demônio

As lágrimas escorriam
Enquanto via o carro dele chegar
Sozinha de novo em casa


Às gritarias, ela foi imobilizada
O corte que conseguira fazer nele
Não foi profundo o suficiente
Ele era muito forte

Houve um momento de distração
Ela correu e pegou a faca
Sabia que não conseguiria se livrar dele
Então se livrou de si mesma

O corte no pescoço
O sangue escorrendo
O mundo indo embora
Ela estava chorando

Lágrimas vermelhas
Lágrimas de ódio
Lágrimas de tristeza
Lágrimas de fogo
As lágrimas de seu prório sangue
Denegrido por um demônio

O brilho de seus olhos
Fora tomado por um abismo
Um abismo de escuridão
Onde caíra sua inocência

9.22.2010

Histórias de Roberta - O sonho



Roberta bocejava em frente ao computador. Claro, já eram duas da manhã! Ficara jogando a noite toda, conversando com os amigos pela internet. Espreguiçou, desligou o computador e foi para a cama. Deitou a cabeça no travesseiro e ficou pensando por alguns segundos. Esticou o braço, desligou a luz do abajur e fechou os olhos. Estava cansada. Como um jogo pode cansar tanto uma pessoa?
Não demorou muito e Roberta acordou. Estava em meio de uma névoa, uma neblina, não sabia explicar, só sabia que não conseguia ver quase nada. Estava frio e, com muito esforço, ela viu um vulto na frente. Não conseguiu identificar o que era, mas decidiu ir em direção àquilo. Aos poucos, o borrão cinza começou a tomar forma, a qual ela conseguiu identificar como uma estátua: um gárgula. Por que uma estátua estaria no meio do nada? Nada foi o termo que ela conseguiu identificar aquele lugar. Ela estava no nada.
Fitou a estátua por alguns segundos: o gárgula estava agachado, com uma das mãos no queixo, a outra no chão, e suas asas o encobriam. Roberta chegou mais perto...
AH!!... Roberta gritou quando as asas do gárgula se abriram. Aquela estatua começou a ganhar vida e, aos poucos, o corpo feito de pedra foi se transformando em carne, ossos e o que mais que um gárgula tem. Ele a observou por um momento, chegou perto dela, seus rostos estavam bem próximos. Aqueles olhos vermelhos, com pupila de gato, olhavam para os dela. Ela, com a expressão indignada, quebra o clima:
"Que susto você me deu! É para isso que você fica aí, sentado? Para ficar assustando todo mundo que passa?"
"Insolente! Sabe quem eu sou para falar dessa maneira?"
"Quem você é, eu não sei. Mas você é uma 'coisa' que está se mexendo e me assustou. Audácia!"
"Me chamou de 'coisa'. Audácia sua! Garota atrevida."
Roberta viu, pela expressão do gárgula, que o havia ofendido.
"Qual é seu nome?"
"Gregory é meu nome. E você deve ser Roberta."
"Sou sim. Olha, por acaso você sabe que lugar é esse?"
"É o lugar onde eu assusto criancinhas  iguais a você" - Gregory disse, soltando uma risada debochada.
"Você está fazendo hora com a minha cara?"
"Eu?! Não, claro que não. Isso eu já fiz. Hahahaha" - Roberta estava ficando irritada e Gregory estava se divertindo. - "Hahaha, faz tempo que não me divirto com um trouxa."
"Quem é trouxa?! Espera um pouco... quanto tempo está aqui, sem ninguém?"
"Dez anos. "
"Não é à toa que é tão chato! O que você faz aqui, ficando sentado todo esse tempo?"
"Eu guardo o castelo escondido de Thorpe!" - Disse Gregory, com extrema importância.
"Sério?" - Roberta mudara de expressão, estava ansiosa para ver o castelo - "E onde é que fica?"
"O quê?"
"Como o quê? O castelo!"
"Não sei!"
Roberta parou, ficou nervosa de novo.
"Olha, não vem fazer hora com a minha cara de novo! Se não quiser me falar, não precisa me fazer de trouxa." - ela cruzou as mãos e virou o rosto de lado.
"Fazendo-te de trouxa? Não acreditas em mim?"
"Claro que acredito!" - ela ironizou - "Você está aqui há dez anos protegendo um castelo, e não sabe onde ele está?"
"Não." - ele falou com a maior simplicidade do mundo.
"Como assim?" - ela estava realmente irritada.
"Não falei que ele estava escondido?"
"E você não sabe onde ele está escondido?"
"Se soubesse, não estaria escondido"
"Está bom. Chega dessa pergunta. Por que você está de guarda?"
"Thorpe me mandou."
"Só isso?"
"Você é muito curiosa e está ficando chata. Vou contar tudo de uma vez. Eu estava brincando com Thorpe. Fizemos uma aposta: ele esconderia seu castelo, se eu achasse, poderia morar nele, se não..."
"Se não...?"
"Ele não havia me dito, mas aceitei a aposta. Enfim, não consegui achar e ele me disse o que aconteceria se eu perdesse. E aqui estou eu!"
Roberta, perplexa com a história, olhava para Gregory. Ele ficou incomodado por ela não falar nada e...
"Não vai falar nada?"
"Você..." - ela segurava uma risada - "... é um trouxa! Está protegendo um castelo que nem você sabe onde está por causa de uma aposta. Hahahaha..."
Gregory a olhou, irritado, e esbravejou:
"Como ousa me chamar de trouxa. Eu sou um gárgula de palavra!"
"É... trouxa!"
Gregory abriu as asas ao máximo, soltou um grito ensurdecedor, e fechou as asas. Toda a névoa envolveu Roberta e ela não conseguia mais ver Gregory. 
Tudo estava branco. Até que começou a aparecer uma imagem à sua frente. Piscou os olhos e viu o teto de seu quarto. O sol já estava no céu e iluminava todo o quarto. Passou a mão pelos cabelos longos, se levantou e pensou: "Acho que vou começar a dormir mais cedo..."

Douglas Mateus

9.20.2010

O Inferno



Ando pelo meu caminho pecaminoso
Tantas coisas que fiz...
No final, encontro um buraco
Será para o centro da Terra?

Pego minha corda, e começo a descer
Minha pele é cortada por algo afiado
Pedras laminares, raras e valiosas
Será que valem o sangue que escorre de mim?

Chego a uma caverna, alguns ossos no caminho
morreram de fome?
Olho para o fim, uma luz vermelha
Será essa a luz no fim do túnel?

Atravesso a luz e vejo corpos em chamas
andando e gritando,
pulando e rolando no chão, em brasas
Será uma festa sado-masoquista?

Continuo a andar e vejo um ser,
com um tridente e dizendo que estava me esperando
Olho para sua cabeça, e não resisto...
"Sua esposa vai bem?"

Irritado, lança o tridente em mim, perfurando-me,
"Esse é o seu destino... pecador!"
Olho para ele, e não resisto novamente...
"Sua mãe vai bem?"

Irado, me lança aos quintos dos infernos
e grito: "Não podia ter usado o elevador?"
E vou pagar minha dívida
eternamente, no centro da terra

9.16.2010

A Fotografia



Sentado no meu quarto, olho para você
Toda beleza retratada naquela imagem, em um quadro de madeira
Olho para a janela e imagino onde você esteja
Indo e vindo nessa paisagem incompleta
Volto a olhar para você, mas a paisagem sumiu,
e sobrou você no papel branco delimitado pelo compensado
Sorrio, talvez loucamente, e fecho os olhos,
pensando ser você a razão do meu estado
Olho pela janela, um pássaro negro corta o céu nublado
Volto a olhar-te, mas não está mais lá
Somente o papel branco insignificante retido na madeira
O simples vazio de querer o que não se pode ter
E é assim que você me faz sofrer

9.14.2010

Fama



Subo as escadas douradas
Minhas poses são motivo de flash
Todos me aplaudem..

Uma mão surge do nada
Uma mão enorme e dourada
e me esmaga nas escadas
Olho em volta
e já não tenho mais nada

Douglas Mateus

9.08.2010

O Piano Maldito - Parte Final - Joe Loringer



A família Loringer era formada por quatro pessoas: Sr. Loringer, Sra. Loringer e seus pequenos filhos Joe e Vanessa. Vanessa tinha cinco anos e adorava brincar, como qualquer criança. Já Joe tinha 9 anos, era estudioso e adorava tocar piano. Quando tinha cinco anos, entrou em uma escola de música. Seus pais haviam notado o interessse do filho pelo pianinho que deram à ele de aniversário, e resolveram 'apostar'. Julia, sua professora, lhe ensinou a tocar piano. Ela era alta, bonita, cabelos anelados e tinha a voz maravilhosa. Digamos que isso ajudou o pequeno Joe, gostava muito da professora. Quando sua avó morreu, ele tinha 7 anos e, no funeral, foi ele quem tocou a marcha fúnebre. De certa forma, isso o ajudou a superar a perda. Atualmente, ele toca Mozart e Beethoven e é o melhor aluno de música.
Mas hoje é feriado! E a família Loringer decidiu passear pelo museu de música, a pedido de Joe. Os quatro entraram pela porta principal, Joe olhava bem os instrumentos e Vanessa, segurando sua linda boneca de cabelos castanhos, tentava tocá-los. "Não encoste em nada, menina", Sr. Loringer disse. Um guarda se aproximou ao ver a menina. 
"Vejo que a senhorita quer tocar algo, não é?" - Vanessa acenou timidamente com a cabeça - "Venham, bem ali tem alguns instrumentos que você pode tocar."
A família Loringer se dirigia ao local, mas Joe queria explorar mais o museu. "Vou ver mais alguns instrumentos pai", disse. Com a autorização do pai, Joe se afastou. Via cada um com interesse, gostava dos instrumentos, mas não podia esperar para ver um piano! Ele era simplesmente fascinado por piano. Qualquer garoto da idade dele estaria jogando video-game, mas ele não. Olhou bem a sala, e concluiu que não havia nenhum piano ali. Olhou para os pais e Vanessa, eles estavam se divertindo e distraídos, nem notariam a falta dele por alguns minutos, pensou. Então, decidiu atravessar uma das portas.
Na nova sala, viu um clarinete e uma flauta. Não satisfeito, passou para outra sala. Um violão e um violino. Passou para outra. Não estava interessado em mais nenhum objeto. Passava por eles e sua vontade de ver um piano aumentava. Passava pelas portas, sem voltar, até que viu uma porta diferente: havia notas douradas desenhadas em sua superfície, a porta era vermelho camurça e a maçaneta lembrava uma tecla de piano. Esperançoso, entrou.
A sala era mal iluminada. Caminhou um pouco e reparou que havia duas fileiras de castiçais, castiçais de um metro. Aquela sala lhe dava medo, mas decidiu caminhar mais um pouco. Ao passar entre o primeiro par de castiçais, as velas se acenderam, em um fogo verde. Ele rapidamente se virou e viu as velas. Com medo deu alguns passos para trás, passando pelo segundo par. Esses também acenderam. Seu medo aumentou e começou a correr e, a medida que passava pelo 'corredor', as velas acendiam. Até que bateu a perna em algo, quase caindo. Se segurou em algo que lembrava uma mesa. Olhou bem, seus olhos brilharam. Acabava de ver um magnífico piano. Havia batido a perna no banco, em frente ao piano. Como mágica, seu medo se foi.
Sentou-se no banco, era um pouco pequeno para ele. Incrivelmente, o banco começou a subir, deixando o garoto em uma altura ideal para tocar. Sua emoção era tanta que não ligou, e começou a tocar a 9ª Sinfonia de Beethoven. A música preenchia a sala, a luz verde iluminava totalmente o lugar. Joe olhou em volta, e viu a beleza das paredes, pareciam estruturas de Roma. Olhou para cima, o teto parecia esculpido: havia um anjo e um demônio, um de costas para o outro, suas expressões eram semelhantes: pareciam esperar algo. Joe voltou a olhar para o piano e continuou a tocar a melodia.
Lentamente, a tampa do piano foi tomando a posição vertical. Isso assustou Joe, que parou de tocar. Joe não tinha forças para sair, ficou paralizado de medo, e a moldura apareceu no piano. Dentro dela, foi mostrada a imagem de Julia, sua professora.
Joe olhou bem os olhos dela, sentia uma imensa ternura emanando de sua imagem. Isso o acalmou. A professora começou a cantar: 

"Freude, schöner Götterfunken
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligtum!..."

Joe entendeu a mensagem dela, e voltou a tocar a sinfonia. O ambiente agora estava delirante, a melodia de Beethoven tocada por Joe e cantada por Julia. Ele estava tão alegre e distraído que não percebeu que as cordas do piano lentamente saíam. Uma das cordas acariciaram o rosto de Joe, que soltou um grito. "Não tenha medo", disse a professora sorrindo, "continue tocando", e ela voltou a cantar. Joe obedeceu. 
As cordas arrastaram os castiçais e os colocaram em volta do garoto e do piano, formando um círculo. A luz verde deixava o ambiente maravilhoso, e Joe olhou para cima. O demônio tinha uma expressão de raiva, e o anjo estava sorrindo. Podia jurar que ouviu o anjo dizendo ao demônio: "Viu? O mundo não é só trevas. Uma alma pura como essa merece a vida". Joe agora estava sem medo, e tocava com todo o coração, vendo sua professora cantar. Quando a música terminou, a professora disse "Obrigada!", e sumiu. A moldura desapareceu. As cordas do piano arrastaram os castiçais, formando um corredor. Mas esse, agora, indicava o caminho para uma porta. O fogo ainda emanava sua luz verde, o banco pousou no chão e as cordas apontavam a direção do corredor. Joe olhou para trás e sorriu para o piano. Algumas cordas o empurraram gentilmente para a saída. O garoto abriu a porta e, antes de sair olhou o piano de novo e disse "tchau". Seus olhos brilhavam e pensava: acabara de passar o melhor momento de sua vida. Joe saiu.
O piano recolocou os castiçais no lugar, formando o típico corredor, e recolheu suas cordas. As velas foram apagadas, e a sala voltou a monotonicidade de sempre.

Esse é o último caso que conto sobre tal piano e deixo uma pergunta a vocês: seria mesmo o piano... maldito?

Douglas Mateus

9.06.2010

O Piano Maldito - Parte II - Emilia Scroldger



Enfermeira, acima de tudo. Não se importava muito em ser mulher, em ser vizinha, em ser amante, o que importava era ajudar as pessoas, e fazia isso no Hospital de Silverland. Muito famosa pelo seu trabalho, Emilia Scroldger acompanhava os pacientes até a morte, parecia que sentia a dor deles. Sua profissão era sua vida.
Nunca tirava folga, mas nesse dia, seu chefe a obrigou a descansar. Esse dia era um dia atípico. Como não tinha ninguém, resolveu passear. Chegando ao centro de Silverland, decidiu passar no Museu de História, onde normalmente passeava na época do colégio. Pela entrada principal, viu no hall, vários objetos expostos, tais como documentos que datavam antes da independência da cidade. Olhava-os com carinho, relembrando sua adolescência.
Emilia passeava pelas salas do museu, entrara na sala com "Objetos deixados pela monarquia no dia de nossa independência". Havia mesas, cadeiras e talheres reais, camas, até uma máquina de escrever que pertencera ao príncipe (infelizmente, esse morreu por infarto antes do dia mencionado). Havia quadros e mais quadros, muitos deles pintados pelos próprios monarcas. Ela seguia a fileira de quadros na parede, analisando um por um. Havia duas pinturas que chamaram sua atenção, intituladas de "A mão do diabo". Em uma, estava desenhada linhas saindo do chão de uma sala e, no final delas, havia uma mão. Na outra, o reflexo da mesma pintura. Observando as duas pinturas simultaneamente, observou que as mãos apontavam para algo entre os dois quadros. Olhou melhor, havia um corredor estreito entre as duas pinturas. Emilia olhou para os lados, ninguém a olhava, e decidiu entrar no corredor.
Caminhava apertada pelas paredes. Não havia mais quadros, o corredor era curvo e já não via a entrada mais. Continuou andando, até ver uma porta. Nela, estava escrito: "O mais valioso bem deixado pelos monarcas: o próprio diabo." Movida pela curiosidade, entrou.
A sala era mal iluminada. Andava tateando as paredes, até que algumas velas foram acesas, sozinhas. Emilia visualizou os castiçais de um metro, e entrou nesse 'corredor'. Ao fim, viu um piano. Começou a rir. "O próprio diabo?", pensou. Olhou bem o piano, lembrou-se de uma música que aprendera na adolescência, "A sinfonia do inferno".
Sentou-se no banco vermelho camurça, pousou suas mãos sobre as teclas e começou sua sombria melodia. Ficou tocando por um tempo. De repente, as demais velas acenderam, o fogo era intenso e alto. Emilia tentou se virar mas não conseguia tirar as mãos do piano. Lentamente, a tampa do piano foi tomando a posição vertical, e a moldura foi exposta. Nela, havia um homem de meia idade em uma cama, em um hospital. Seu estado parecia grave. Na sala, entrou uma enfermeira, segurando uma bandeja com uma seringa e um remédio. Ela, olhando aquele homem, tirou do bolso do jaleco um frasco pequeno, de cor âmbar. Encheu a seringa com seu conteúdo e injetou no soro do paciente. Passou-se alguns segundos, e o homem abriu os olhos. Sua expressão era de dor, agora, seu corpo se contorcia, e falava "meu corpo está queimando, queimando". Poucos minutos de agonia extrema, o homem fecha os olhos, sem nenhuma reação. Sua respiração parou, seu coração parou de bater. A enfermeira sorri maldosamente, esvasia o frasco contendo o remédio e, muda sua expressão: desesperada, vai chamar o doutor.
A cena muda: no mesmo hospital, em uma sala cheia de crianças, cada uma em uma cama, as enfermeiras davam os remédios para cada uma. Ela, responsável pela criança no fundo da sala, chegou quando todas as outras haviam deixado a sala. A criança era linda, seu rosto angelical, não devia ter mais do que 4 anos. Ela tirou do bolso do jaleco uma seringa, e injetou no braço da criança todo o remédio. O que aconteceu não é necessário explicar. A enfermeira sorri maleficamente, muda sua expressão para desespero e chama o médico.
Emilia tocava a melodia, sua respiração estava ofegante. Gritava: "quem está fazendo isso? Como conseguiu essas imagens? Não brinque comigo... eu te mato infeliz." A moldura desaparecera da tampa do piano. Ela começou a rir :"alguém está brincando comigo.. e eu não vou cair nessa". Continuou tocando. As cordas do piano, lentamente sairam, sem ela perceber. Deslizavam pelo chão, envolvendo as pernas dela. Então... as cordas perfuraram suas pernas, entraram em suas veias e seguiam os caminhos dos vasos sanguíneos. Emilia começou a gritar de dor. As cordas agora perfuraram suas mãos, e subiam pelos braços, através de suas veias. As cordas pareciam queimar dentro dela, suas veias estavam queimando de dor.E ela continuava a tocar.
As cordas se encontraram no coração de Emilia e se tornaram vermelhas: sugavam seu sangue. Emilia gritava de dor. Algumas cordas subiram para o pescoço, passando pela jugular. Em seus olhos, via-se a sombra das cordas.
Emilia perdeu o brilho nos olhos. Seu corpo estava seco, ou melhor dizendo, totalmente drenado. Lentamente, as cordas voltavam para o piano. Algumas seguravam a mão de Emilia, e faziam-na tocar o resto da melodia. Quando a música acabou, as cordas soltaram suas mãos e voltaram para dentro do piano. Emilia caiu no chão, sua expressão de dor ainda era visível em seu rosto. Pouco a pouco, foi absorvida pela sala. As velas se apagaram, a tampa do piano fechou, e a sala voltou a ser a sala mal iluminada de sempre.

Douglas Mateus

9.03.2010

O Piano Maldito - Parte I - Jonas Portdant



Jonas Portdant era um homem de meia idade, os cabelos começaram a ficar brancos, a testa começara a franzir naturalmente. Vivia numa casa modesta, de coisas necessárias, nada extravagante. Não significa que era pobre, pelo contrário, tinha de tudo, de tudo o necessário.
Em sua infância, passara muito tempo com a avó, e ela o ensinou a tocar piano. Passavam longas tardes discutindo as notas musicais e tocando as melodias produzidas por aquele belo instrumento. Em sua adolescência, foi servir o exército. Foi creditado como um dos melhores soldados, devido a seus diversos feitios. Não era casado, não tinha filhos, era solteiro e, digamos, sua esposa era a vida. 
Estava de viagem agora, em Silveland, uma cidade famosa pela sua mostra de arte. Passeava pelo museu de música, junto com um grupo de pessoas. Quando o guia os liberou para explorar o museu à vontade, o grupo se dissipou. 
Jonas entrava nas salas, sempre admirando os instrumentos: violinos, violões, saxofones e muitos outros. Entrava em uma sala por uma porta, e saía dela por outra. Nunca voltava, e isso foi o levando sempre a salas diferentes. Passou algumas portas (que eram todas de madeira, mas havia sempre um desenho prata de notas musicais) e o barulho das pessoas havia diminuído, parecia que estava se distanciando delas. Na sala em que estava, observava cuidadosamente uma cítara. Após a análise do objeto, se encaminhou para a outra porta.
Era uma porta diferente, as notas eram douradas, a porta era vermelho camurça e a maçaneta lembrava uma tecla de piano. Curioso, entrou.
A sala era pouco iluminada, mas não reduzia sua beleza. As paredes eram diferentes, pareciam estruturas de Roma. Haviam castiçais, de um metro, na sala. Eram duas filas de castiçais, formando uma espécie de corredor. Ele caminhava, admirando os castiçais, com as velas, até que viu, no final desse 'corredor', um piano.
Lembrando-se de sua infância, a saudade da avó, as tardes tocando piano, olhou para os lados. A sala estava totalmente deserta. "Não há nenhum mal em tocar uma música", pensou, mas o medo de as pessoas ouvirem o som o deteve. Pensou mais um pouco, "Não ouço mais as pessoas, nem os guardas. Não devem conseguir me ouvir também". Pensando isso, sentou-se no banco vermelho camurça, pousou as mãos sobre as teclas do piano, e começou a tocar.
Começou com uma música suave, mas lhe deu vontade de tocar algo melhor. Aos poucos, sua música se aproximava de melodias sombrias, sua vontade de tocar aumentava e não conseguia parar. Seu olhos, estavam vidrados e não tinha mais controle de suas mãos, apenas tocava aquela melodia sombria, de aterrorizar qualquer corpo humano. 
De repente, as velas foram acesas. Todo o 'corredor' estava agora iluminado. Aos poucos, a tampa do piano subia, até ficar na posição vertical. Em sua superfície, começava a aparecer uma moldura, parecendo um quadro na tampa do piano, mas sem nenhuma figura. E Jonas continuava a melodia.
Dentro da moldura, apareceu a figura de um jovem, com farda, um jovem do exército. Ele estava em uma cadeira, amarrado e todo machucado. Aparece outra pessoa na cena. Falava alguma coisa para o jovem, que não respondia, e começou a bater no prisioneiro. Viu aquela cena por uns minutos. O agressor, não satisfeito, pegou um de seus instrumentos e começou a torturar o jovem. Jonas estava espantado, seus olhos estava totalmente abertos e a expressão de medo era clara em seu rosto. Após acabar com o jovem, eis que surge outra cena:
Dois homens estavam em uma guerra, em alguma cidade. Sobreviviam como podiam, roubando alimentos das casas que atacavam. Em uma certa casa, encontraram não apenas comida, mas uma mulher. Um olhou para o outro, via-se o sorriso maligno. Seguraram a mulher, arrancaram-lhe a roupa e se aproveitaram dela, da forma mais selvagem. Enquanto isso, batiam em seu rosto, em seu corpo. Revesaram, até cansarem e matá-la.
As cenas continuavam sendo exibidas, cenas de mesmo porte. A expressão de Jonas agora era de pavor. Suava frio, suas mãos estavam trêmulas e, mesmo assim, continuava tocando a melodia, que combinava com as cenas reproduzidas. "Como? Como?", gagejava, "Como alguém conseguiu esses vídeos? Não havia mais ninguém nos locais, a não ser as pessoas que foram mostradas. Como alguém conseguiu isso?". O pavor era imenso, alguém sabia de sua fase no exército. Pensava a mesma coisa, desesperado. Até que as cenas pararam de ser exibidas...
Jonas conseguiu parar de tocar um pouco. Estava atordoado. A moldura, lentamente, desaparecia da tampa do piano. E ele começou a tocar de novo. Agora, uma música sombria, mas agitada. Ele tentava parar, mas não controlava suas mãos, e não conseguia se levantar. De dentro do piano, saíram as cordas, envolvendo o corpo de Jonas. Braços, pernas, peito, pescoço, rosto, todos envolvidos. As cordas apertavam de modo a expremê-lo. E ele não parava de tocar. 
As cordas pareciam afiadas. Apertavam cada vez mais, e começaram a cortar seu corpo. O sangue escorria, e as cordas cortaram a carne, chegando no osso. Seu rosto estava todo vermelho, seus olhos sangravam e ele gritava de dor, mas não parava de tocar. Até que.. seu corpo foi totalmente dilacerado pelas cordas. Elas cortaram seus ossos, cortando todo o corpo de Jonas. Seus pedaços estava estirados ao chão, numa poça vermelha, que combinava com o vermelho camurça do banco. A melodia acabou, mas suas mãos ainda repousavam sobre as teclas do piano. O sangue delas escorria por entre as teclas, as cordas voltaram para dentro do piano. 
Não havia mancha de sangue no piano, ele havia se alimentado. Lentamente, a tampa do piano fechou e as chamas das velas foram sendo apagadas, duas a duas, até a sala voltar a tímida claridade de antes.

Douglas Mateus

Pessoal, ganhei mais selos da minha amiga Aline. Vejam aqui.

8.31.2010

Histórias de Roberta - Seu vizinho...



Roberta voltava para casa, depois de um dia cansativo no colégio. Todas aquelas aulas chatas haviam passado, mas parecia que nunca iria a acabar. Caminhava pela rua, abriu o portão e entrou em casa.
"Cheguei", falou quando entrou. Deixou a chave pendurada na porta e se dirigiu para a cozinha. Estava faminta.
Distraída, pegando o hamburguer dentro da geladeira, ouve um grito. (Buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu). Tamanho foi o susto que espremeu o hambúrguer na mão.
"Seu pirralho! Agora eu vou comer carne moída!", falou para seu irmãozinho, que saiu rindo. "Ainda bem que estava no plástico".
Fritou o que foi chamado de hambúrguer, colocou no pão e foi pegar molho. Sentada no sofá, assistindo ao seu seriado predileto, deu 'aquela' mordida no lanche. O molho escorreu pelo pão e caiu em sua camisa, que por sinal era branca.
"Mas que.... não, calma, calma". Levantou para pegar um pano e derrubou o copo de refrigerante que tinha colocado no chão. O refrigerante espalhou para debaixo do sofá. Dessa vez ela falou um palavrão.
Pegou um pano de chão e limpou a bagunça. Com um pouquinho de raiva, comeu o resto do hamburguer. Nesse momento, sua mãe chega em casa.
"Tenho uma notícia para você filha"
"Eu espero que seja boa...."
"Bem..."
"Olha, meu hambúrguer virou um mostro, eu sujei minha camisa branca de molho e derramei refrigerante debaixo do sofá. É bom que seja boa."
"Her.. bem.. Eu falo com você depois", sua mãe deu um sorriso amarelo e foi para a cozinha.
Como se já não bastasse o dia, curiosa, foi à cozinha.
"Qual é a notícia, mãe?"
"Tem certeza de que quer saber? Não quero alguém tendo uma crise aqui em casa. Vai assustar meu intestino. E você sabe como ele fica quando o ambiente está agitado!"
"Mãe, eu já te falei. Seu intestino não tem sentimentos. e..."
"Retire o que disse!", falou com a filha e colocou a mão em sua barriga, "não, ela não quis dizer isso. Pode ficar tranqüilo."
Roberta respirou fundo, pensou que era melhor não se preocupar com o relacionamento de sua mãe com o intestino.
"Voltando ao assunto, qual é a notícia?"
"Ah, sim. Sabe aquele vizinho, que ficava implicando com as crianças do bairro? Pois é, teve um infarto, está no hospital. Parece que já está melhor."
Não conseguiu se conter. Aquele vizinho que conhecia desde sua infância, havia sofrido um infarto...a emoção era tão grande, que gritou:
"Yeeeeesssssss!!! Enfim ele teve o que merece!"
"Filha!"
"Ele pegava minhas bonecas e dizia que eu era parecida com elas!!!"
"E qual o problema disso?"
"Eu só tive boneca feia!!"
"E a que eu comprei para você... você não me disse que achava ela feia, e sempre brincava com ela... sempre via você tirando a cabeça das bonecas e....Roberta!"
Ela olhou para o lado, com cara de santinha...
"Er.. bem... é que... você me deu com tanto carinho... "
"Ha...Agora eu sei porque você torturava suas bonecas..."
"Mas isso é passado. Sobre a notícia...", deu um sorriso maléfico, "posso visitá-lo?"
"O que você vai fazer lá?"
"Nada de mais, só fazer uma visita ao meu velho e bom vizinho..."
"Tudo bem, mas nada de fazer o que você fazia com suas bonecas com ele.."
"Ah! Isso nem passou pela minha cabeça..."
"E nem colocar morfina no soro dele!"
"Desisti da visita!"
"Eu sabia", e sua mãe deu um sorriso pela vitória e pegou um iorgute na geladeira, "agora é hora de você comer!"
"Não mãe, obrigada. Acabei de comer"
"Não é para você.", olhou para a barriga, "olha o aviãozinho... para o intestininho querido da mamãe!"
Não consegui ficar olhando aquilo, tomou banho e foi para o quarto. Estava cansada, resolveu deitar e dormir. Enquanto dormia, mentalizava sua infância. Brincando 'inocentemente' com as bonecas, estava ela no parque, quando chega seu vizinho. Ela já sabia o que ia acontecer, e tenta não olhar para ele. Ele chega perto, pega uma das bonecas dela e... Seus olhos ficam esbugalhados, sua respiração pára. Ela, vendo o velho ir dessa para melhor, pega a boneca da mão dele e...
"Muahahahahahhaha" - solta sua maior e melhor risada maléfica.
E segue seu sonho tranqüilo, com um grande sorriso no rosto.

Douglas Mateus

8.25.2010

Lundu


  
Em volta da fogueira,
Sem camisa, o corpo exposto
Os movimentos sensuais
Danço com a mulata

Encosto meu rosto ao seu,
Encosto meu corpo ao seu,
Requebramos juntos
Na batida do lundu


Ela rebola, seu corpo é meu
Me rejeita, mas me chama
Levanta a saia, mostra a perna
Requebra o quadril, e eu sou dela

Ela não quer? insisto...
Me aproximo devagar,
Chego perto e a agarro,
Minhas mãos passam pelo seu corpo
Minha boca perto da sua
Ela pega meu rosto e vira-o
Volto a roçar meu rosto no dela
E ela acaba a me beijar

O ritmo acelera
Nossos corpos encaixados
Rebolando e roçando
Ela me chama e eu vou
Ela me rejeita mas eu não cedo
Eu rebolo, sensual,
Enquanto ela se exibe
E continuamos o 'ritual'

Ficamos ali, dançando,
coxa com coxa,
quadril com quadril,
até que...
a umbigada

Ah!, sim, a umbigada...
E a dança acaba
Nos delírios da paixão
Para começar a diversão...

Douglas Mateus

8.18.2010

Ciúmes



"Não, não foi a mim que escolheu. Do que gosta, não te satisfaço? Hum... não sou o suficiente então. Pode ter escolhido outra pessoa, mas meu desejo por você só aumentou."


Em seu quarto, sentado sobre a cama, não se descrevia nada vivo, nem ele. O relógio, na parede acima da porta, realizava seu trabalho de sempre: tic... tac... tic... tac...
Pensar não lhe fazia bem. O motivo? Simples: imaginava, e muito. Mas agora, que sabia que fora definitivamente largado por outra pessoa, sua imaginação estava limitada, sim, limitada àquele casal que parecia tão feliz. Fechou os olhos, veio o rosto daquela pessoa, cada detalhe, aqueles olhos cujo brilho pensou ser para ele, aquela boca... Veio a imagem do outro, tocando o rosto dela e seus olhos fecharam ao toque do amado.
Ele fez uma careta e se contraiu, parecia que havia levado um soco no peito. Mas continuou com os olhos fechados e a cena continuava... quando viu os dois se beijando. Aqueles lábios encostando nos lábios de outro. Pôde-se ver veias aparecendo em todo seu corpo, sim, o sangue lhe fervia o corpo. Abriu os olhos, a respiração ofegante, levantou e caminhou em direção à sua escrivaninha. Segurou a mesa com as duas mãos e curvou seu corpo como se ela fosse seu apoio. O som do relógio parecia ter aumentado: tic... tac... tic... tac...
A cena continuou, e o pescoço da moça era beijado pelo outro, e ela estava entrando em delírio. Seus olhos, agora, estavam vermelhos... de tristeza ou ódio? Segurou forte a mesa, enquanto o rapaz seduzia a moça. Aquela imagem... Com um só movimento, tudo que estava sobre a escrivaninha foi jogado no chão. Pegou os cabelos com força, o sangue fervendo-lhe o corpo. Deu alguns passos para trás, encostando na parede. Levantou a cabeça e fechou os olhos.
Caminhou e ficou em frente ao espelho que havia na porta do guarda-roupa. Viu sua própria imagem, semelhança do fracasso amoroso. Essa, se foi e surgiu a imagem do casal, continuando o que estavam fazendo. O rapaz, agora, tirava a roupa da moça. Sim, aquelas mãos, que não eram as suas, estavam delirando a moça. Ela estava sendo tocada por outro... Encheu os pulmões e gritou, alto o suficiente para ela ouvir do outro lado do espelho. Estaria ficando louco? O casal olhou para ele e, maleficamente, deram um sorriso. Seus olhos estavam totalmente abertos. A expressão em seu rosto misturava-se com a trizteza e o ódio, como se tentasse achar algo racional ali, algo que explicasse o que estava acontecendo.
Em seguida, cerrou um dos punhos e deu um forte soco no cristal. O espelho foi feito em pedaços, dos quais vários cortaram sua mão. Aquele sangue que fez suas veias aparecerem, que corria por todos seus membros queimando cada parte de seu corpo, agora se esvaía pelo punho. As lágrimas desciam dos olhos, como se cortassem seu rosto a medida que escorriam. Lágrimas afiadas, de ódio. A respiração ofegante. Ela estava amando ele. Seu coração batia tão forte que parecia que iria parar. As mãos do outro no corpo dela. Gritou mais uma vez. Esmurrou o que sobrou do espelho, cortando-lhe mais o corpo. Gritava loucamente, para quê? Nem ele sabia mais. Mas se visse os dois, ha, os mataria. Faria-os sofrer como ele está sofrendo.
Depois de acabar com os pedaços do espelho, sentiu suas forças indo embora. Ajoelhou e, em seguida, se deitou, formando um quadro de deprimência: aquele corpo, totalmente sem defesas, jogado numa poça de sangue coberta de vidros que refletiam sua própria imagem, e a imagem deles. 
Deitado no chão, ao meio dos cacos de vidro sangrentos, sua vida se esvaía pelos pulsos. O relógio continuava sua monótona melodia, e a cada nota musical, ele se distanciava de sua amada. Até que... o sangue parou de escorrer, o relógio parou de tocar... e ele fechou os olhos.

Douglas Mateus

8.15.2010

Perdido na noite vermelha



Olho para onde estou
Para o lugar em que vou esquecer você
Um lugar vivo, cheio de cores
Com as bebidas mais calientes
E as ninfetas mais imprudentes
Com as propostas mais indecentes

Perco-me nessa noite vermelha
Ao som do profano
Do vermelho insano
O cheiro do mal
De sabor infernal

Unhas arranhando costas
Rostos contraídos
Jogos inusitados
Corpos suados

Todos juntos, rindo e bebendo
Beijando e lambendo
Mordendo e gemendo

Até o gozo final, a liberdade
Porque hoje eu esqueci você

Será mesmo que esqueci?


Douglas Mateus

8.13.2010

O Aventureiro




          Sim, eu aceito. Não, isso não é um casamento. É uma missão. Hoje eu estou empolgado. Subo em cima de um dinossauro verde e chego à ilha de destino. Deixo-o comendo as maçãs das árvores e lá vou eu voar pelos ares, em volta do castelo de Peach, com um boné vermelho com asas. Faço uma aterrissagem meio estabanada, pulando em cima de uns monstrinhos achatados e saio surfando em um casco de uma tartaruga. Entro em canos verdes, para encontrar passagens secretas.   É legal e me rende várias moedas pelo caminho.
           Então, eu compro um carro e dirijo pelas ruas de Nova York. Aposto corridas na cidade, corridas perigosas, desviar das pessoas é uma tarefa e tanto! E sempre sou um dos classificados. Mas quando não sou... Eu bato nas pessoas! Sim, bato em um policial e roubo-lhe a arma. Desconto minha raiva em qualque um que cruzar meu caminho, e de quebra ainda roubo um carro irado!
           Dirijo até a base do FBI. Entro discretamente e, quando um funcionário passa, mostro minha falsa identidade, digo-lhe que sou novo no emprego e "obrigo-lhe" a abrir as portas que contém senhas. Consigo todas as informações secretas e corro para o telhado. Estou sendo perseguido e não há saída. Simplesmente pulo do prédio (incríveis 30 andares). Quando estou no ar, caio em cima do meu dragão e ele me leva àquela ilha onde todos me esperam. Mas outros dragões nos cercam, e temos que desviar de todos seus cuspes de fogo. Finalmente conseguimos despistá-los e retorno à minha ilha. Mas em um lugar que não conheço! Onde está meu dragão? Sumiu!
          Aparece um monstro gigante bem na minha frente! Que sorte! Corro desesperadamente para poder me salvar, quando vejo, encravada em uma pedra, uma espada. Então, leio o que está escrito: "Rei Arthur". Não sou Arthur, muito menos rei, mas tirei a espada. Tenho agora o poder da Excalibur, e enfrento aquele monstro. Com minha magia e a espada, derroto o gigante. Nessa hora, aparece de novo o dragão. Agora ele aparece! E quando eu estava quase morrendo, onde você estava? Subo nele e chego em minha cidade.
Sou recebido com aplausos, dignos de um verdadeiro herói. 
          Missão concluída... e salva! Nem rola fazer isso tudo de novo amanhã...

Douglas Mateus

8.09.2010

Voando... - Parte II




O som estava alto. Eu olhava para os lados, mas não vinha nenhuma idéia. Até que eu vi um carro atrás da casa. Corremos em direção a ele. Pude notar o movimento do carro: sobe e desce. Ele já estava ocupado. Continuamos correndo, sendo ele minha única esperança. Por sorte, a porta estava aberta. Nós entramos nos bancos dianteiros, enquanto um casal transava nos de trás. Eles não se assustaram quando entramos, pelo contrário, olharam para nós e começaram a rir. “Mais dois para brincar”, disse o garoto. Não dei muita importância e pedi para que a moça coloca-se a roupa.
Percebi que a mulher atrás passava a mão nos seios da moça. Me virei para parar com a brincadeira, e senti algo em meu pescoço. Na verdade, ele havia passado a língua em mim, enquanto a outra tentava agarrar a moça. Deixei de lado, lembrei que estávamos sendo perseguidos. Liguei o carro. Olho para fora e vejo um dos garotos correndo em nossa direção. Arranquei o carro e saí na maior velocidade, enquanto recebia mordidas em minha orelha.
Dirijo à saída. Perto de chegar a estrada, parei o carro bruscamente. Olhei para frente, não havia como sair. Eles criaram uma barreira. Sim, eles se fizeram de barreira e a saída estava fechada. Não podia simplesmente atropelá-los. Fiquei parado, ali, com as mãos no volante, enquanto os dois de trás gemiam. Olhei para os lados, dois garotos vinham pela esquerda e mais dois pela direita. Perdi as forças, seríamos pegos. Olhei para a moça, estava encolhida no banco. Vi seu rosto. Me doeu ver aquele rosto assustado, desesperada, aqueles olhos pareciam ter perdido a esperança. Aqueles olhos...
Agarrei forte o volante com as mãos. Pisei fundo no acelerador. O carro estava indo rápido em direção à barreira humana. Não se mexeram. Um pouco mais perto. Nenhum movimento. Eles não iriam sair. Pensei em parar o carro de novo, mas lembrei daqueles olhos. Pisei mais fundo.
Por incrível que pareça, os garotos pularam para o lado, e conseguiram se salvar. Estávamos na estrada, agora. Estava dirigindo para bem longe dali, entrava em qualquer rua, seguia qualquer direção que nos levasse longe dali. Olho para a moça, agora vestida. Sua expressão de horror havia desaparecido e, assim como eu, mantinha o alívio na face. E os dois atrás... Bem, continuavam o que estavam fazendo. Não perceberam nada e, de vez em quando, tentavam juntar-nos a eles naquela viajem de prazer.
O nosso destino agora me preocupava. Não podia chegar em casa com ela, naquele estado e um casal trepando no carro. Eu não entraria na porta de casa. Se fossemos para a casa dela, seria difícil explicar aos seus pais o que aconteceu. Passávamos pelos postes de luz, sem idéia do que fazer. Então eu vi: um motel. Seria bom passar a noite fora de casa, depois daquilo. Parei o carro no estacionamento.
Eu e ela entramos, deixando os dois amantes no carro. Pedi que descansasse um pouco. Fui tomar banho. Deixei a porta aberta, para que, se acontecesse algo, pudesse eu ouvir. A água quente caía em meu corpo, massageando-o. Abaixei a cabeça e deixei a água cair, enquanto pensava no que faria no dia seguinte. De repente, sinto minhas costas serem tocadas. Fui abraçado. Senti seus seios, seu quadril. Viro-me, olho para ela e retribuo o abraço. Ela me beija. Um beijo forte, de tirar o fôlego. Talvez tenha sido isso o que aconteceu, o fôlego, pois de repente ela perdeu a consciência. Havia desmaiado. Troquei sua roupa e a coloquei na cama. Vesti-me e deitei também. Deitei de lado, mas não consegui dormir. O que seria o amanhã me preocupava. Até que senti seus braços me envolvendo novamente. “Não estava desmaiada?”, pensei. Mas não fiz nada. Estava gostando de estar com ela. Até que... adormeci.

8.06.2010

Voando... - Parte I



Parecia apenas uma noite qualquer. Música alta, o pessoal da balada louco e a bebida rolando. Meus colegas e eu estávamos bebendo um pouco mais, só para ficar feliz. Dançávamos no meio da pista. Garotas olhando para nós, e nós para elas.
Um desconhecido começou a conversar com um de meus colegas. Não ouvi o que falavam, mas vi quando meu colega acenou para nós. Fomos atrás deles. A essa altura, já estávamos rindo a toa. Chegamos lá, e então vi a bandeja com riscos brancos: pó. “Já estou assim mesmo, pior não pode ficar”, pensei. Um a um, cada um de nós cheirou. Quando foi minha vez, não consegui terminar a carreirinha, espirrei. Fiquei com o rosto branco e comecei a rir de mim mesmo. Parecia que eu já tinha usado a droga, de tanto que eu estava viajando.
Rindo aqui, rindo dali. Um de meus colegas me chamou: “Pegação no quarto. Vamos para lá. Vou transar demais hoje.”
Eu não estava nem aí, mas fui. Chegando ao quarto, percebi que o sexo já estava rolando: uma mulher deitada na cama e um cara em cima dela. Não o conhecia, mas havia outros em volta da cama. Cada um esperando sua vez. Podia ouvir coisas do tipo: “é isso que você quer, não é, sua vadia?”, “abre mais, abre mais” e “você vai gostar quando chegar minha vez, cachorra”. Eu ria dos comentários. Na verdade, eu ria de tudo. Estava bêbado e drogado, o que vocês queriam de mim?
Fiquei mais por fora do grupo, esperando minha vez. Passa um, passa outro, até que finalmente: chegou! Aproximei-me da cama, tirando a camisa. Desabotoei a calça e a abaixei um pouco. Deitei sobre a garota.
Antes de começar, queria sentir um pouco seu corpo. Peguei em seus seios, grandes. Beijei seu pescoço, subi para o queixo. Olhei para seu rosto. “Gostosa, vadia!”, pensei em dizer. Foi quando notei que seus olhos estavam molhados. Não sei porque, mas parei um instante. Ela havia chorado. Por que uma cachorrona de festa daquelas estava chorando no quarto? E ouvi... “Pára, por favor, pára com isso...”.
Eu tentava raciocinar, mas a droga não deixava. Olhei para os lados. “O que foi, amarelou?”, ouvi um dos garotos falando. Olhei para ela novamente. Comecei a beijá-la, sua boca, e fui à orelha. Dei-lhe uma lambida generosa e sussurrei em seu ouvido: “Se prepara para correr. Eu vou tirar você daqui.”.

Ela olhou para mim, dei-lhe outro beijo de língua e desci para os seios. Nesse momento, peguei o lençol que estava do lado e atirei-o em cima dos garotos, tampando temporariamente sua visão. Peguei a roupa dela no chão e começamos a correr para fora do quarto, para fora da casa. Eles custaram a nos perseguir. Acho que foi por causa da droga...
Nós estávamos do lado de fora. Desesperado, eu procurava uma saída, enquanto, eu sabia, eles tentavam nos achar...