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12.28.2012

Do lado de fora - Parte III




Caminhava, só isso que fazia. A tímida luz da janela do quarto tinha se esvaído na escuridão. Para qualquer lado que olhasse, não via nada, não tinha noção de direção. Seguia sempre reto, pelo menos tinha certeza de que se afastava de sua origem.
Há quanto tempo caminhava, não sabia dizer. Minutos, horas, dias, quem sabe? Aquela escuridão não parecia ter fim. Estava sozinho e estava no frio. Sentiu uma ponta de arrependimento de ter largado o que tinha. Nesse momento viu, não muito distante, se é que se definia distância nesse espaço, um rosto. Parecia uma projeção espectral, pois somente o rosto estava visível, e seu tamanho era imenso. Os olhos, sombreados, o vigiava, ou o condenava, não sabia dizer.
Caminhou em direção àquele rosto (ora diabos, só fazia caminhar!) até ficar perto da projeção. Não havia muito do que se falar sobre aquele rosto: tinha cabelos longos, lisos e pretos, os olhos sombreados, um nariz perfeito para um espectro e os lábios extremamente vermelhos.
_Quem é você?
_Pergunta típica de qualquer um que me vê pela primeira vez. - o rosto agora sorria ironicamente - Sou todos e sou um só. Eu sou você, assim como qualquer um. Alora, é meu nome.
_Uma xarada ou só uma resposta complexa? Que tal eu perguntar... o que é você?
_Terá que descobrir, assim como saiu rumo ao desconhecido. Não é a curiosidade que apetece teu espírito? Mas cuidado... procurar muitas respostas demanda tempo, e não creio que queira ficar aqui todo esse tempo, e não creia que quer. Pode se perder por aqui. 
Alora tinha uma expressão assustadora, de um sádico que brinca com as pessoas. Os olhos pareciam esbugalhados, alguns de seus fios de cabelo negro escorriam pela face e seu sorriso, parecia sentir imenso prazer naquela brincadeira.
O Primeiro (assim chamarei a pessoa que primeiro saiu do quarto) não entendia bem. E sabia o porquê: não sabia o que estava procurando. Seguiu uma curiosidade embaçada, fosca, que se relutava em mostrar um objetivo. Pensou já estar perdido.
_Oh! - Alora desviu um dos olhos para o além - parece que temos companhia - e abriu um largo sorriso sarcástico.
Primeiro ouviu passos. Quem mais poderia estar naquela escuridão, a mesma em que ele está? E lembrou de tudo que deixou para trás... e sentiu um frio na barriga...