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10.28.2010

Mate-me de prazer



Pego minha taça
Bebo o vinho vermelho
Saboroso, passo a língua nos lábios
e retribuo seu sorriso malicioso

Te levo para o quarto
Bato a porta, você me joga na cama
Me beija violentamente
Rasga minha roupa
Como se fosse me matar
Tirar algo de mim
Lutamos  e lutamos
Eu te aperto, você me sufoca
Eu te penetro,você me invoca

Você me arranha as costas
Me deixa todo vermelho
Deixa suas marcas felinas em mim
Enquanto deliro em você

Me morde, como se fosse um animal
com sua presa, rasgua minha carne
deixando o sangue escorrer
enquanto grita durante nosso movimento infernal

Me prenda! Me machuque com a força das suas pernas
enquanto continuo o vai-e-vem
Me aperte com seu abraço, como se fosse quebrar meus ossos
Mais forte, Isso! Encrave suas unhas nas minhas costas
Deixe o sangue escorrer, enquanto morde meu pescoço
E grita, e bate, até sua força máxima
O momento que mostra quem você verdadeiramente é

E acabamos imóveis na cama
Mortos, pelo prazer assassino do gozo

10.18.2010

Vazio existencial



Não tenho sentimentos
Meu eu é monótono
Tudo que sabe sobre mim
É a mais pura mentira

Não penso em você
Não penso em mim
Só sigo em frente
No que os outros chamam de vida

Não tenho desejos
Não tenho rejeições
As vezes, me pergunto se sou humano
Me identifico com um demônio
Tenho características de anjo
Não sou nenhum desses três

Sou a ausência do amor
Sou a ausência do ódio
Sou a ausência da luz
Sou a expressão vazia no rosto da vítima humana

Não sou o alfa
Não sou o ômega
Não sou Deus
Sou o oposto disso tudo
Eu sou o NADA

10.11.2010

SOU O BRINQUEDO EM SUAS MÃOS



Veja esse lugar: escuro, frio. Não esperava uma coisa dessas de você. É aqui que guarda tudo? Mas está vazio. Não interessa. Olho para os lados e vejo uma porta cinza, descascada. Coloco a mão na maçaneta, giro-a e abro a porta lentamente, deixando um ruído deprimente cortar o silêncio desse lugar. Não sei porque, mas gosto desse lugar.
Vejo um corredor. Caminho, algo fez barulho, parecendo se quebrar. Pisei em uma folha seca. Aproveito para observar o chão: o cimento estava coberto de folhas secas. Como essas folhas foram parar aqui, se não existe árvore nesse lugar? Na verdade, aqui não existe vida. Continuo seguindo em frente, passando pelas paredes cinzas e mortas. No fim do corredor, duas passagens. Por essa ou por aquela? Vamos por essa.
Durante minha caminhada encontro várias passagens. Começo a rir sozinho. Um labirinto? Quanto mais vai me fazer andar? Por toda a eternidade? É assim que me ama?
Entro em passagens aleatórias, sem me preocupar por onde vou ou se estou andando em círculos. Estou cansado desse jogo, mas não consigo ficar parado. Apenas ando, tentando te encontrar. Odeio o jeito que brinca comigo. O suor escorre pelo meu rosto, ando tateando as paredes. Espere, acho que vejo algo. Estreito as pálpebras para enxergar melhor. Havia uma luz vermelha no meio do corredor. Estranho, havia algo de cor nesse mundo em que me trancou. Do chão, surge uma pessoa, com um capuz vermelho sobre a cabeça e uma foice nas mãos. Acho que era a morte. Como a morte pode ter tanta vida no meio da própria morte? Ela vinha em minha direção, segurando firmemente sua foice. Ela iria me matar... mas não posso deixar isso acontecer. Ainda não te encontrei. Não posso morrer agora.
Começo a correr desesperado, entrando por qualquer passagem. Ela vinha correndo atrás de mim. Maldita! Corres rápido. Como vou me livrar dela nesse labirinto? Nesse labirinto...? Para onde foi o labirinto? Só há uma passagem no final de cada corredor. É como se eu seguisse em linha reta. Fechei os olhos por um instante, eu sabia que estava correndo exatamente para onde ela queria. Mas não podia deixá-la me pegar. Corri até o final do caminho. Uma porta cinza descascada. Meti a mão na porta e vi:
Voltei para o lugar de onde comecei. Uma sala cinza, vazia, com o chão, agora, coberto de folhas secas. Não havia saídas. Olhei para a porta. Lentamente, a morte entrava na sala. Ela se aproximou de mim, ficamos cara a cara. Não sei se posso dizer cara a cara, melhor cabeça a cabeça. Meu coração batia forte, meu suor, agora saía frio, e se misturava com o suor quente que havia no corpo. Então, é assim? Vou morrer sem te olhar uma última vez. Sem te amar uma última vez.
Ela, lentamente, tirou o capuz. Pude ver seu rosto. Sim, pude ver SEU rosto. Era você o tempo todo. Você que vive nesse mundo. Você é a única que tem vida aqui. Sim, agora reparei em mim, não tenho cor, também sou todo cinza. Meu medo acabou, estar com você me consola. Sorrio, mas você não retribui. Na verdade, sua expressão é maligna. Pensei em te abraçar e te beijar, como se isso fosse apagar o susto que me deu, mas continua segurando a foice. Vi tudo em seu rosto: estava decidida.  É isso o que faz com o que ama? Brinca e joga fora? Agora entendo porque a sala está vazia. Você mata tudo o que guarda.
Levanta a foice, seria um golpe só. Pensei que ficaria como antes, mas não. Agora não tenho medo. Já te encontrei, não tenho medo do que vai fazer comigo. Me mate agora, mas não hesite. Me tire logo do seu mundo, já percebi que não faço parte dele. Apesar de tudo, você faz parte do meu. Mas isso não interessa, porque o meu está prestes a acabar. E esse é o seu mundo, frio e sem vida. É aqui que você acaba com tudo. Aqui,  bem no interior do seu coração. E ela fez da foice, seu pincel; do chão, a tela; e de meu sangue, a tinta. E naquele mosaico de folhas secas, eu viro a pintura sem vida da tela morta.


Douglas Mateus

Galera, ganhei um quadro de selos da minha amiga Dielma.
Confiram!

10.05.2010

Profissionalismo - Parte Final

 

"Certa vez, no orfanato, conheci um menino. Ele visitava o lugar algumas vezes. Era o único que me entendia e prometeu que me tiraria dali. E cumpriu a promessa." - Cate deliciava-se com as palavras - "Devo confessar algo: cada um que morreu hoje teve um motivo."
Foi a minha vez de falar, na verdade, minha e de Danilo. Alternávamos a vez:
"John Petterson. Acusado de abusar da sobrinha, mas foi absolvido da acusação por falta de provas." - apontei para o gordo no chão.
"Joana Turker. Vendia drogas. Os usuários que não pagavam, ela mesma matava" - Danilo apontou para a loira com vestido vermelho, no chão.
"Tonsom Pets. Cafetão. As mulheres eram praticamente escravas. As que tentavam fugir, eram cruelmente mortas." - apontei para o gordo com terno vermelho e cabelo grisalho.
E continuamos as descrições, até a lista acabar.
"Então vocês são uma espécies de justiceiros?" - indagou Amanda.
"Não" - respondi, com um sorriso maléfico - "Somos assassinos. Apenas temos critérios para matar."
Cate voltou a falar:
"Aquela noite, você me tirou o que eu tinha de mais precioso. Minha mãe. Soube que ela morreu,  espancada, na prisão. Sabe, o seu motivo de morte é forte" - Cate encostou a faca na garganta de Amanda. - "Cresci observando você. Policial exemplar, coloca o dever acima de tudo. Engraçado o que o profissionalismo faz, não é? Se não fosse tão profissional aquela noite, talvez.... não interessa. " - Cate apertava a faca mais forte, sem cortar a garganta de Amanda.
Até que, olhou nos olhos da policial e abaixou a arma.
"Aquele dia, você estava fazendo seu trabalho, justa e honesta. Não é culpada do que aconteceu depois. Fique tranqüila. Você não encaixa no perfil de minhas vítimas. Matar você seria ferir meus princípios." - sorriu para a policial e saiu. Danilo havia aberto uma das passagens, e nós três saímos. Por incrível que pareça, ninguém nos perseguiu.
"Escolha sábia" - Danilo disse - "Uma verdadeira assassina, seguindo princípios verdadeiros. A vingança não faz parte de nossa lei. Isso que é profissionalismo"
"Não pense isso. Eu a matei. Amanda é uma policial que trabalha para o bem dos outros. Sabendo o que ela fez comigo... logo você vai entender"
Sorri para ela, sabia que essa seria sua escolha, mesmo que eu não concordasse. Nós três entramos no carro de Danilo e, antes de partir, ouvimos um disparo. A expressão de Cate parecia condená-la: estava feliz, mas a vingança a incomodava.
"Você fez essa escolha, Caterine. Terá que viver com o peso da conseqüencia o resto da vida. Não é a mesma coisa, não é? Matar um inocente não está nos nossos princípios. A vingança não faz parte de nossa lei. Somos assassinos, esse é o nosso trabalho. Essa é a nossa vida."
Apesar do suicídio, tenho certeza de que Amanda seria acolhida aos céus.

10.02.2010

Profissionalismo - Parte II



A noite chegou rápido. Fui para casa, tomei um banho e peguei minhas coisas. Liguei para Danilo. "Tudo pronto?", ele confirmou. Saí de casa rumo à festa.
Encontrei várias pessoas da faculdade. 
"Você aqui?", perguntaram. 
"Pois é, tenho assuntos a resolver".
Algum curioso chegou a perguntar: 
"Como o quê? Não vai estudar, vai?".
Não resisti e respondi:
"Não. Na verdade, eu tenho que matar algumas pessoas."
"Cara, você é realmente estranho!"
Nesse momento, vi Danilo. Ele acenou para mim, minha expressão mudou. Eu havia entendido, era hora de começar.
Um homem se aproximava. Reconheci, estava na lista que havia recebido. Com um rápido movimento, virei seu pescoço. Ele caiu, imóvel, no chão. Meus colegas me olhavam espantados. Vi Danilo acionando algo: todas as entradas da galeria foram fechadas. Ninguém entra, ninguém sai.
Peguei as duas facas que guardava na cintura. Alguns policiais se aproximaram, mas eu os desarmei. Danilo fez a mesma coisa. Pouco a pouco, identificávamos os integrantes da lista e, um por um, caíam no chão. Até que eu a vi, vinha em minha direção apontando sua arma: Amanda, uma policial  antiga. Desarmei-a facilmente e a algemei, deixando suas mãos atrás das costas. 
Todos olhavam para Danilo e eu, estavam espantados e não entendiam o que estava acontecendo. Até que Amanda decidiu falar:
"Matando pessoas em uma festa. Que falta de criatividade, mas ousado. Quero dizer, na frente de todos, sem esconder sua identidade."
Não falamos nada.
"Não vai me matar logo? Estou algemada. O que vai fazer? Me bater? Já sei, vai me estuprar e depois matar."
Olhei para ela.
"Te estuprar? Eu sou um assassino. Te estuprar não seria... ético." - sorri sadicamente, ela entendeu.
"Não acredito no que estou ouvindo. Um assassino falando de ética. Isso existe nesse ramo?"
"No ramo, não sei? Mas tenho meus princípios."
"Princípios?"
"Sou um assassino, não um animal sanguinário. Mas não convém falar disso agora." - desviei o olhar para o lado.
Do meio da multidão, surgiu uma garota. Mesmo vendo tudo, seu semblante era calmo, eu diria indiferente. 
Ela se aproximou da policial, e começou:
"Sabe, meu pai me batia quando eu era menor. Batia forte, eu chegava a sangrar, minha mãe desmaiava. Até que, certo dia, decidimos parar o maldito. Foi uma luta e tanto, mas ele caiu, para nunca mais levantar. Alguns vizinhos ouviram o barulho e chamaram a polícia, que chegou arrombando a porta. Imobilizaram minha mãe, iriam levá-la. 'Não podiam fazer isso comigo', pensei. Peguei a faca que usamos para matá-lo e a enfiei na perna de um policial. Descobri que era uma policial. Ela gritou de dor, e me segurou, falando que eu era uma marginal. Fui parar em um orfanato perto da região: Saint Cruz. Você sabe como é lá? Antes tivesse ficado com meu pai." - a garota parou um pouco, sorriu vagamente. Amanda escutava tudo atenciosamente. 
Caterine, a garota, se aproximou de mim e pediu uma das facas. Dei-lhe uma. Perto de Amanda, Cate rasgou sua calça e viu a cicatriz que causara quando criança. Amanda estava assustada, seus olhos estavam mais abertos que o normal. Cate a olhou, apreciou sua expressão, sorriu e retomou a fala...