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7.30.2010

À Beira da Loucura


Então, é isso? Sim, eu sei. Sei que você tem outra pessoa. Nada posso fazer quanto a isso. Mas e nós? Acaba aqui? Você não sabe o quanto me faz mal ficar longe de você. Quando nos encontramos, sinto uma alegria que não sei explicar, e só sinto quando estou com você. Mas você não sente o mesmo por mim, não é? Eu já imaginava. Sim, você sente isso por outra pessoa, eu sei. Mas, mesmo sabendo, ainda tive esperança de algo dar certo entre nós. Essa atenção que você me deu nos últimos dias, senti uma felicidade quando foi você que procurou falar comigo. Minha cabeça ficou cheia de pensamentos esperançosos de nós dois. Cada vez que nos despedíamos, eu ansiava em chegar o próximo encontro. Mas não foi assim, não é? Durou muito pouco. Talvez eu tenha me empolgado demais. Talvez eu deveria ter ido mais devagar. Mas, sim, eu arrisquei. Para quê? No outro dia você não me procurou. Não respondeu minhas mensagens. Eu estava só, novamente. O quê? Sim, eu sabia que você não era para mim. Mas poderia ser, eu pensava que podia mudar isso. Mas não pude. Como fui idiota! Pensar em nós dois, juntos... Ah, fui mesmo um tolo.

Precisa me jogar na cara? O jeito como você se afastou. Sua última mensagem. Tão simples, mas como uma bomba! Não tive ânimo para te reencontrar. Não tive ânimo para nada. 

O que foi? Vai ficar aí, me falando que já é de outra pessoa? Quer saber? Cansei! Sim, cansei. Não vou ficar deprimido por sua causa. Não vou mais chorar por você. Você não merece. Talvez mereça... Não, eu não posso pensar assim. Você não merece essas lágrimas. A causa foi você, mas você não as merece. 

Acha que não vou conseguir viver sem você? Me poupe! Pare de falar bobagens. Sigo em frente com minha vida. Não vai ser você que vai estragá-la.

Oh, me dá um tempo! Eu vou te esquecer. Não consigo? Hahahahaha. Não me faça rir. Quem é você para saber o que consigo fazer ou não! Vou te esquecer tão facilmente como foi para você ficar na minha mente.

Cego? Você realmente está fazendo piadas. Não, eu não tenho olhos só para você. Sim, sua beleza, seu jeito de ser, são marcantes, não posso negar. Mas e daí?

O quê? Ah sim. Estou ficando louco? Você está me deixando louco com esses seus comentários sádicos. Deve estar se divertindo com isso, não está? Deve estar rindo de mim com seu amor por aí, enquanto passeiam e namoram e fazem todas as coisas que eu planejei para NÓS! O que estou dizendo? Espere, sua imagem está mais clara. Não te disse que você iria embora assim, tão facilmente?

Não compreendi, o que disse? Ah, você está sumindo. É melhor mesmo...
A imagem desapareceu. A voz também. Hahahahahaha. Sim, estou rindo. Que bom que foi embora. Tudo o que acabou de me dizer. Ficar rindo, assim, de mim. Que audácia! Mas... não, não faria isso. Não riria de mim. Você não é assim. Estou olhando em volta. Estou no meu quarto. Mas como saiu sem fazer barulho? Como...? Hahaha... Estou rindo.. de quê? Como pôde ir embora, se nunca esteve aqui? Estou agarrado ao meu travesseiro, com os olhos inchados. Com quem estive falando? Se estive sozinho esse tempo todo?

E eu havia pensado que passaríamos bons tempos juntos...

Douglas Mateus

7.26.2010

Embriaguez da Natureza

A água escoa pelas pedras,
o som da cachoeira.
A correnteza...
O vento sopra,
assobia, um som fino.
As árvores balançam,
as folhas sacodem.
As aves cantam,
enquanto voam sobre o céu,
o céu azul, azul vivo,
as nuvens passeando devagar,
nuvens brancas e macias,
onde meus pensamentos descansam.
Estou aí? Estou ali? Onde estou?
Não sei... Não quero saber...
Ah! A tranqüilidade da natureza...
A água escoa pelas pedras...

Douglas Mateus

7.24.2010

Dance Floor


Fecho os olhos e minha mente é invadida. Eu não quero saber de mais nada, a não ser ficar ali. A taça de vinho na mão. Eu bebo, o álcool sobe à cabeça. Meu corpo movimenta ao ritmo da música. O que estou fazendo? Não faço a mínima idéia. Só sei que está muito bom. Não me importo com mais nada. Começo a rir sozinho. E meu corpo movimenta. Não me lembro mais de meus problemas. Bebo mais um pouco. As luzes daquele lugar, sempre mudando de cor. Eu estava no meio da multidão, mas não sentia ninguém ao meu redor. Era só eu, e a música. E mais um gole. O ritmo aumentava, meu corpo se agitava mais. Aquelas luzes, vermelha, azul, verde... Meus olhos fechados. O som dominando minha mente. Fico ali por muito tempo. Sim, aquela noite eu havia decretado: aquela noite era minha. 

Não tinha mais domínio de meu corpo. Ele se movimentava conforme o ritmo da música. Como se eu fosse seu escravo. Tudo que ela ordenava em suas batidas, eu obedecia. E o que era melhor... Eu estava gostando. Gostava do modo que me mandava, e eu cumpria suas ordens. Bebia mais um pouco. Não pensava em mais nada. Aquilo que eu sentia, correndo em todo meu corpo. Simplesmente inexplicável. Toda aquela energia. E meu corpo movimentava e eu bebia mais um pouco... E assim durante o resto da noite.
Chego em casa, meus pés latejando. Caio em cima da cama e adormeço no mesmo instante. O cansaço era grande, mas, apesar de tudo, enquanto durmo, brota um sorriso em meu rosto.

Douglas Mateus

7.21.2010

A Caixa de Pandora

Um turbilhão de espíritos voava em uma sala fechada e escura. Era enorme a velocidade com que se deslocavam, provocando furacões no ambiente. Havia um que era mais calmo, passava lentamente pela sala e iluminava timidamente o lugar. Na verdade, da luz emitida só se via ele, e a sala continuava escura.
"Se o homem me tiver, será o mais bonito, forte e inteligente."
"E ele precisa disso?"
"Concordo com ele. Para que ser tão bonito e forte?"
"Se não fossem espíritos, eu lhes dava uma pancada!!!"
"Não se preocupem, podemos acabar com a alma.", "E nós, com o corpo.", ouvia-se dentro da sala.
Esse era o diálogo de sempre. Todos os dias. Até que, por algum motivo, curiosidade talvez, alguém abriu a sala. Sim, a sala fora aberta.
Os espíritos ficaram extremamente agitados. Em alta velocidade, voavam em direção a porta. Eles riam, risos maléficos, e alguns gritavam:
"Vamos dominar o mundo.","Febre, sangue e morte." e "Emprobreça a alma. Sim! Vamos levá-los ao inferno".
A pessoa que abrira a sala estava horrorizada, entrou em pânico. Desesperada, fechou a porta, mas era tarde demais. Todos os espíritos haviam escapado, exceto um, que andava lentamente e tinha luz própria. Esse fora trancado. Mal sabia ele que estava destinado a uma missão.
Pouco tempo depois, houve relatos absurdos sobre a terra. "Doenças que não existiam causavam morte ao povo. Guerras sem sentido eram travadas sobre o mundo. A alma dos humanos estava sendo corroída." - os espíritos que escaparam espalharam sobre a terra todas as calamidades, que destroem o corpo e a alma.
A pessoa, que era uma semi-deusa, deu o espírito trancado aos homens. Sim, sua missão era habitar o coração dos humanos e não deixá-los. Seu nome? Ah, sim, a esperança. Que agora deixava de habitar a Caixa de Pandora.
  
Douglas Mateus
-Texto baseado da história "A caixa de Pandora", da Mitologia Grega-

7.15.2010

Razão de Viver

Caminhando na terra,
os pés descalços,
a trouxa de roupa na cabeça,
ao destino do riacho,
deixara as crianças em casa,
brincando debaixo do sol quente,
a comida era escassa,
as roupas, nem se fala.
Abria a trouxa que levara,
começava o trabalho árduo,
esfregava aquelas roupas,
e cantava, e cantava,
cantigas variadas,
de tristeza e alegria,
enxagüava a roupa ensaboada,
e torcia, e torcia,
e ela estava ali,
a beira da correnteza,
esfregando as roupas da patroa,
por umas míseras moedas.
Volta do serviço,
vai à feira fazer compras,
cenoura, repolho e chuchu,
de novo vai ser sopa, pensava,
mas quando chegava em casa,
e seus filhos viam a sacola com comida,
seus olhos brilhavam e o sorriso era certo,
e ia para o fogão, preparar o 'sopão',
para sua prole tão amada,
e era por ela,
que sua vida continuava.

Douglas Mateus

7.06.2010

...Inside...


Aquelas grades. Um dia eu as derrubo, e fujo daqui. Não aguento mais esse lugar. Escuro, vazio. Apenas um feixe de luz entra pela janela. Tento olhar através dela, mas só vejo escuridão. Talvez meus olhos acostumaram com esse lugar mal iluminado. O ambiente é frio. As paredes, úmidas. E a grade à minha frente. Não é um tipo comum, não tem 'porta'. Ela não abre. Parece que fui jogado aqui e construíram essas barras metálicas pelo propósito de eu não fugir. Cela? Talvez seja esse o nome. É, eu estou numa cela. 

Torna-se engraçado estar aqui. Não tenho fome, não tenho sede. Não tenho nada. Começo a rir sozinho. Estou louco? Talvez esteja. Caminho de um lado para o outro, algo fez barulho. Paro instantaneamente, mexo novamente os pés. Havia uma lasca de mármore no chão. Uma lasca do tamanho de uma lixa. Lixa, é isso. Rapidamente, comecei a lixar uma das barras com a lasca de mármore, na esperança de poder sair desse lugar.

Horas se passaram, não sentia fome, não sentia dor. Poderia continuar o trabalho pelo resto da vida, mas vi que não estava resultando em nada. Parei, minha esperança foi embora, do mesmo jeito que da última vez. Como foi mesmo? Ha sim, lembro-me bem, agora. Era inverno e eu havia encontrado uma lasca igual a essa no parapeito da janela. Peguei-a. Aproximei-a do meu rosto e soprei, um sopro quente. A lasca trincou. O choque causado pelo calor e frio a fizeram trincar. Por que não tentar com as barras? Lembro-me que fiquei dias soprando as barras para ver se elas ao menos trincavam, mas nada. Patético não? Mas, o que é uma faísca de esperança no meio da escuridão? É muito, mas infelizmente foi só esperança.

E quanto a lasca? Sim, era uma lasca igual a essa. Será a mesma? Não, essa está inteira. Agora percebo que ela tem ponta, por que será? Fico olhando para ela. Minha vontade de sair daqui é enorme. Mas o que acontece se eu acabar com tudo isso? Continuo olhando para ela, agora como uma faca. Involuntariamente, aponto-a para mim. Dará certo?, penso. Com um só movimento, atravesso-a em meu coração. Minha respiração começou a diminuir, até parar. O sangue escorria pela minha mão, ainda segurando a pseudofaca. Tudo ficou preto. 

Por um momento, fiquei feliz por ter acabado com aquele cenário deprimente.
Estou deitado. Meu corpo não dói, não sinto fome, sede ou frio. De repente, um feixe de luz atravessa o ambiente. A luz bate no chão e timidamente ilumina o local: as mesmas paredes, as mesmas barras.
Olho para meu corpo, não há vestígios de sangue. Por que não saí desse lugar? Na verdade, por que eu não morri? Será que morri? Será esse o purgatório?

Olho para barras. Agora elas estão vermelhas. Olho para o teto e as paredes, estão vermelhas e parecem ter veias em sua formação. De repente, eu sinto um impulso vindo do chão. As veias bombeavam sangue. Outro impulso, as paredes sofreram o mesmo. Olhava para os lados tentando entender o que estava acontecendo. Outro impulso, e a sala toda havia sofrido o impulso. Eu corria para os lados, a cada vez que acontecia. E vinha outro. Meu rosto espantado. E outro. E eu corria. E outro. E eu corria. E outro. E eu corria...
 
Até que parei no meio da sala. Os impulsos continuavam, mas eu não tinha medo mais. Havia entendido, os impulsos do meu coração. Sim, aquela cela, aquele lugar que eu tanto queria sair, eu mesmo havia construído. Isolado de todo eu, eu estava preso. Preso dentro de mim!

Douglas Mateus

7.02.2010

Amor... Desabafo...

O medo me aflige,
Será que vou?
Dou um  passo a frente,
meu corpo treme.

O que será que vão achar?
Não, o que será pensará?
Sim, no singular.
Essa pessoa que eu quero tanto amar.

Quero tanto? Meus sentimentos me confundem,
Será amor, ou só paixão?
Não sei definir, só sei que é grande.
É essa a verdade do coração?

Dói em pensar que essa pessoa ama outro.
Dói em pensar em não amar essa pessoa.
De que adianta dar um passo a frente,
para um futuro que so posso escrever, imaginar?

Essa é a verdade, caros amigos,
Estou apaixonado,
Mas esse amor não pode vingar.

E é por isso que eu falo de amor,
O que escrevo aqui é um desabafo,
De um coração sem esperança,
que devia ficar calado.


Mas quer saber? Cansei de falar em verso, cansei de ser poético. Dói? Dói, não posso negar. Mas não devo me prender a isso. Como vou viver? Sofrendo? Cansei de ser um sofredor. Vou me lembrar de meus momento felizes. Essa pessoa não sai dos meus pensamentos, mas eu quero empurrá-la para fora. 
Talvez seja esse o problema, não quero. 
Parece que, mesmo abandonando o verso, não deixei a poesia de lado, e muito menos meus sentimentos ao relento. E, com a esperança de tê-la, mas a mesma de esquecê-la, ponho fim a este poema, e inicio então, a minha quarentena.

Douglas Mateus