Tudo meu!

Era tudo seu
Não que realmente fosse
Mas gostava de achar que era

Era sua a família,
o cachorro, a casa,
até os sapatos do papai

Eram seus os livrinhos,
os livros e livrões,
os cadernos de receita,
as revistas da mamãe

O creme de barbear do irmão,
os cosméticos da prima,
as agulhas de tricô da avó,
a boininha do vovô.

Era tudo seu,
e tinha o maior amor por tudo,
inclusive pelas pessoas.

Até porque era sua mamãe,
seu papai,
seu irmão, vovô, vovó,
e por aí vai

Eram seus amigos,
e tudo deles também era seu.
Brinquedos, cama, pijama.

Mas ele não era superficial,
ele reconhecia que era seu
o pacote completo.

A alegria do coleguinha,
o sorriso do bebê,
as risadas da vovó,
e também as tristezas do vovô,
o cansaço da mamãe,
os problemas do amigo.

Prestava atenção em tudo,
porque era tudo seu,
inclusive a obrigação,
de cuidar de tudo.
Ajudar, um a um,
porque tomou a responsabilidade
de ter tudo para si.